Título: Projeto Aquiraz deve receber investimento de R$ 680 milhões
Autor: Regiane de Oliveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/11/2004, Comércio & Serviços, p. A18
"No Brasil, nenhum português se sente um estrangeiro". A frase de Jorge Chaskelmann, especialista em implantação de projetos turísticos, reflete bem a realidade dos investimentos portugueses no País. Nos últimos, anos várias empresas de hotelaria fincaram suas bandeiras em território nacional.
Em alguns casos, os projetos turísticos podem promover uma verdadeira revolução no panorama da região em que será inserido. Isso cria uma grande expectativa entre os governos regionais, investidores e, principalmente, moradores das proximidades.
É o caso do empreendimento hoteleiro, turístico e imobiliário Aquiraz Golf & Beach Villas, que será construído no município de Aquiraz, a 25 km de Fortaleza, no Ceará. A nova aposta portuguesa, que será lançada amanhã para o mercado nacional, é resultado de dois anos de estudos e parcerias entre a iniciativa privada e o governo do estado.
O empreendimento foi alvo de especulações e informações equivocadas. O motivo é compreensível. A região de Aquiraz deverá receber nos próximos anos investimentos da ordem de R$ 680 milhões de um pool de empresas autodenominado Agesco (Aquiraz Gestão de Condomínios).
A proposta do projeto é se diferenciar dos atuais resorts nacionais e transformar Fortaleza na porta de entrada do turismo internacional no Brasil. A idéia é construir no local até oito hotéis, seis pousadas, condomínios residenciais e centros de comércio e convenções, além de quadras de tênis e campo de golfe profissional.
Segundo João Oliveira Rendeiro, presidente do Banco Privado Português, sócio do empreendimento, a princípio está confirmada a construção de um complexo hoteleiro com 714 apartamentos de luxo, 350 bangalôs de alto nível e um clube de golf profissional, com 18 buracos, bem como a comercialização dos lotes residenciais.
A implantação do projeto deve criar 2 mil empregos diretos. Após a conclusão, haverá mais 4,9 mil empregos, sendo 2,9 mil nas áreas de golf e do condomínio. Indiretamente, o Aquiraz vai beneficiar ainda mais de 10 mil pessoas.
A profissionalização da mão-de-obra também foi planejada. "Nós próximos meses abriremos uma escola de hotelaria na região, em parceria com o município de Aquiraz e o Sebrae", conta Rendeiro.
Com base no plano de viabilidade econômica, a expectativa é que o complexo alcance uma receita direta de R$ 2,3 bilhões no período de dez anos de operação, e também uma receita indireta, através dos negócios que serão gerados na região, de R$ 2 bilhões.
Investidores
Segundo Rendeiro, apesar das especulações quanto aos investidores, o grupo é formado por Ivens Dias Branco, empresário cearense que controla o complexo industrial de alimentos M. Dias Branco. Ele é proprietário do terreno de 280 hectares, avaliado em US$ 5 o m, num total de aproximadamente US$ 14 milhões (R$ 39 milhões).
Dias Branco responde por 50% da sociedade, formada também pelos seguintes empreendedores portugueses: grupo Solverde Hotéis, Saviotti SGPS (proprietário do grupo hoteleiro Dom Pedro), André Jordan (investidor individual, que atua na área de construção de condomínios de luxo em Portugal) e Banco Privado Português, por meio do Ceará Investment Fund.
O fundo de investimento foi lançado pelo banco em setembro de 2003, na modalidade "private equity". Trata-se de um fundo com participações de empresas, sem passagem pelo mercado de ações. Os investidores adquirem cotas do fundo e podem usufruir futuramente dos lucros.
Paralelamente aos investimentos privados, o governo do estado do Ceará vai aplicar cerca de R$ 150 milhões na infra-estrutura. Segundo Rendeiro, a cifra será destinada à construção de estradas, linhas de transmissão de energia e obras de saneamento. Afinal hoje, só é possível chegar ao local com o uso de buggy.
O empreendimento será iniciado em agosto de 2005, após a conclusão das obras de infra-estrutura. A captação de recursos para o início do projeto, porém, já está concluída.
Somente o Ceará Investment Fund captou ¿ 10 milhões para a primeira fase, cuja entrega esta prevista para o primeiro semestre de 2007. De acordo com Waldick Jatobá, diretor do Banco Privado Português no Brasil, toda a primeira fase será construída com recursos próprios. Mas ele não descarta a opção do financiamento para as demais fases do projeto.
Neste primeiro momento serão construídas três unidades hoteleiras, da bandeira Dom Pedro. Os hotéis, divididos pelas categorias Spa, Golf e Família, marcam a estréia do grupo no Brasil.
Segundo Jorge Chaskelmann, especialista na implantação de resorts, serão 714 quartos, sete restaurantes, piscinas, clubes infantis, entre outras facilidades, a disposição dos hospedes. O hotel é a primeira experiência da rede no conceito "all inclusive", onde todas as despesas com alimentação já estão incluídas no valor da diária. O conceito já é usado no Brasil pelo hotel Breezes Costa do Sauípe, do grupo jamaicano SuperClubs.
Meio Ambiente
Segundo Rendeiro, a consolidação do empreendimento esbarrou num problema ambiental: a proibição da construção em áreas de dunas. O fato foi contornado com a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), de 25 de setembro de 2003, que permitiu edificações, até o limite de 20% da área total do imóvel, em dunas não revestidas de vegetação.
Vencida a dificuldade, porém, o projeto não deixou de lado a questão ambiental. Estações de saneamento de água e compactação de lixo estão nos planos dos investidores. Além disso, um estudo ambiental foi realizado com o objetivo de criar condições para que a região atraia espécies de animais silvestres. Outro problema, o acesso à praia, também foi resolvido com a criação de uma área de comércio aberto ao público.