Título: ANTT propõe terceira linha em Santos
Autor: Roberto Manera
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/11/2004, Transporte & Logística, p. A18

O diretor geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), José Alexandre Nogueira de Resende, percorreu os trilhos da MRS Logística entre Paranapiacaba (SP) e o Porto de Santos. Durante o trajeto, conversou com o presidente da MRS, Julio Fontana Neto, e o executivo chefe de finanças da concessionária, Henrique Aché Pillar, sobre a construção de uma terceira linha paralela à seção da chamada "ferradura" que, a partir da estrada Piaçagüera, conduz à margem direita do porto. Ouviu dos executivos argumentos variados contra a idéia, sendo os mais importantes o de que o ramal margeia um mangue protegido pelo Ibama e o de que o leito da linha é estreito demais e seu alargamento limitado pelo fato de, em alguns trechos, correr paralelo e próximo demais de ruas e avenidas santistas. José Alexandre Resende contrapropôs uma solução que, segundo ele, não exigiria o alargamento, mas apenas o remanejamento da segunda linha, desativada há anos, pela antiga Rede Ferroviária Federal SA. "Reduzindo a distância entre as duas linhas hoje existentes, a terceira poderia ser instalada sem problemas", disse o diretor geral da ANTT durante a viagem.

A necessidade de ampliação do ramal de acesso ao porto nasce de um conflito entre a MRS e a Brasil Ferrovias, que assumiu o controle da antiga Fepasa. Em vez de descer a serra pelo sistema de cremalheiras, a Brasil Ferrovias, utiliza os trilhos que vêm do norte do estado de São Paulo e descem a serra a partir de Mairinque. O entroncamento das duas linhas, na Piaçagüera, dá origem à ferradura, com um ramal em direção aos terminais da margem esquerda do porto, no Município de Guarujá, e o outro para a margem direita, em Santos. A capacidade da única linha em operação já está quase esgotada e o movimento vem sendo impelido pelo aumento das exportações. "Além disso, a Brasil Ferrovias não quer nem pagar pelo direito de uso dos trilhos que assumimos com a concessão e restauramos com grandes investimentos", disse Julio Fontana Neto, presidente da MRS.

Para eliminar a redução do fluxo de mercadorias que ocorria durante a curta descida pelo sistema de cremalheira, a MRS passou a utilizar trens com tração dupla capazes de transportar, cada um, 500 toneladas. Isso permitiu o menor fracionamento das composições que trafegam entre Paranapiacaba e o terminal do Valongo, no acesso à margem direita do porto, onde são desacopladas as locomotivas especiais utilizadas no sistema de cremalheira.

Com a restauração e o aumento da capacidade do trecho, a MRS tem batido recordes de tráfego, fazendo mais de 40 viagens por dia. Em novembro, conquistou uma marca absoluta, fazendo 53 viagens num único dia. A maioria dessas viagens desce a cremalheira com minério de ferro entregue diretamente na Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), que recebe da MRS 5 milhões de toneladas por ano; na subida, são transportadas 800 mil toneladas anuais de chapas de aço da própria Cosipa e 300 mil toneladas de trigo, em grande parte argentino, destinado aos moinhos de São Paulo. Movimentando 8 milhões de toneladas por ano pelo sistema de cremalheira, a MRS calcula que poderá aumentar este volume para 20 milhões de toneladas, se conseguir realizar seu projeto prioritário: a construção de uma esteira rolante de 18 quilômetros que, em paralelo divergente com os trilhos da cremalheira, levariam o minério de ferro diretamente à siderúrgica, liberando os trens para cargas de mais alto valor.