Título: Greenspan adverte e o dólar baixa
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Fonte: Gazeta Mercantil, 22/11/2004, Finanças & Mercados, p. B1
O dólar registrou na sexta-feira passada sua menor cotação ante o euro em mais de quatro anos, depois que o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan, disse que os investidores internacionais se cansarão de financiar o déficit recorde da conta corrente dos Estados Unidos. "Em algum ponto eles têm de diminuir o apetite de comprar dólares", disse o chefe do banco central norte-americano no Congresso do Banco Europeu, em Frankfurt. Greenspan disse assim mesmo que as operações de compra e venda de divisas dos bancos centrais exercem pouco efeito nas taxas de câmbio.
Ante o iene, o dólar caiu na sexta-feira para ¥ 102,88 às 12:40, hora de Nova York, de ¥ 104,18 na quinta-feira à tarde, segundo o sistema eletrônico de contratação cambial EBS. Chegou a cair até ¥ 102,70, sua menor cotação desde 31 de março de 2000. A moeda americana também caiu para US$ 1,3042 por euro, de US$ 1,2961 - tendo fechado a US$ 1,3028. No decorrer de duas semanas, o dólar registrou cinco baixas sem precedentes ante o euro. "Isso é muito desfavorável para o dólar", disse Mark Austin, diretor de estratégia cambial da HSBC Holdings, em Londres. "O Fed chegou à conclusão de que o déficit da conta corrente é insustentável, e que preferiria que houvesse uma certa depreciação controlada do dólar agora antes que venha uma crise em algum momento do futuro", disse Austin. O HSBC projeta que o dólar cairá para US$ 1,34 ante o euro e ¥ 98 no final de junho próximo. "Os que apostam na queda do dólar não poderiam esperar comentários melhores que esses", disse David Mann, estrategista de câmbio da Standard Chartered, em Londres.
A queda do dólar começou mais cedo na sexta-feira pelas previsões de que os ministros da Fazenda e os responsáveis pelos bancos centrais das economias do Grupo dos 20, que se reuniram em Berlim, não se convencerão da necessidade de frear a queda da moeda americana. Greenspan, que está assistindo às reuniões, "acelerou um pouco as coisas ao fazer declarações que deprimiram o dólar ainda mais", disse Aziz McMahon, estrategista cambial da ABN Amro Holding, em Londres. "Greenspan falou sobre a conta corrente antes, mas agora está dizendo que é preciso abordar o assunto mais rapidamente", disse McMahon.
A diferença da conta corrente aumentou para uma cifra sem precedentes de US$ 166,2 bilhões no segundo trimestre. Isso equivale a 5,7% do PIB dos EUA, ante os 5,1% correspondente ao primeiro trimestre, o que quer dizer que os EUA têm que atrair perto de US$ 1,8 bilhão diários para manter o valor do dólar, segundo os cálculos da Bloomberg. A conta corrente é uma medida do comércio, serviços, turismo e de investimentos. "Os investidores internacionais acabaram por ajustar seu acúmulo de ativos do dólar para compensar o risco da concentração, o qual aumentará o custo de financiar o déficit da conta corrente dos EUA e o deixará cada vez menos sustentável", disse Greenspan. kicker: Previsão da HSBC Holdings, em Londres: em junho, euro vai valer US$ 1,34