Título: Onda de fusões e aquisições deve se intensificar em 2005
Autor:
Fonte: Gazeta Mercantil, 22/11/2004, Finanças & Mercados, p. B3
Os seguros de vida, de propriedade e de responsabilidade civil obtiveram bons resultados este ano em geral, entretanto, terão de enfrentar novos desafios em 2005, segundo avaliação de Peter R. Porrino, diretor global de serviços de seguro da Ernst & Young, ao falar à imprensa sobre o estudo "Situação do setor de serviços financeiros".
Segundo Porrino, a consolidação se intensificará em 2005, impulsionada pela pressão dos custos; vendas pouco expressivas; pela necessidade de aumentar a distribuição; e pela racionalização da área administrativa. Ele disse também que as companhias européias, fora do mercado desde 2001, provavelmente voltarão a manifestar interesse nas compras à medida que seus balanços patrimoniais se fortalecerem.
Embora fusões e aquisições nos ramos elementares de seguros tenham ficado paradas, com exceção da associação St. Paul Cos./Travelers, as companhias de seguros de vida têm sido mais ativas. Em 2003, as fusões neste ramo tiveram um caráter estratégico: Manulife e John Hancock, Axa e MONY Group, Bank One e Zurich Life, e Prudential comprando o negócio de aposentadorias da Cigna. Entretanto, Porrino disse que a movimentação deste ano foi impulsionada pelas vendas, lideradas pela venda do ramo de seguro de vida individual da CNA para a Swiss Re, e o ramo de vida e investimentos da Safeco para a Berkshire Hathaway/White Mountains.
Ganhos em alta desde 2003
No que se refere ao resultado mais positivo, o ramo de seguros elementares, desde o início de 2003, obteve retornos médios sobre o capital de 14% a 15%. "É muito raro para o setor atingir este nível", disse Porrino, mas o desempenho ainda está bastante defasado em relação ao dos bancos e das empresas de gestão de ativos. Porrino prevê que os retornos continuarão elevados por mais um ano ou dois, antes de caírem para os 10% a 11%. Embora os lucros sejam robustos, há evidências de que as taxas estão caindo.
Segundo pesquisa do Morgan Stanley e Deutsche Bank, os aumentos médios trimestrais da área de propriedades comerciais caíram de cerca de 24% no terceiro trimestre de 2002, para zero no início deste ano, e para as atuais reduções dos preços neste segundo trimestre do ano. No mesmo período, as taxas de aumento totais das linhas comerciais caíram de cerca de 30% para 9%.
As taxas dos seguros individuais também parecem estar sofrendo pressão por causa dos lucros consideráveis. Porrino disse que, no início deste ano, a norte-americana State Farm, uma das principais seguradoras de massificados, começou a registrar a queda da taxa nos estados, e concluiu que este é o momento de agarrar uma parcela de mercado.
Embora tenham uma vigorosa rentabilidade, as seguradoras de ramos elementares fortaleceram suas reservas e apresentaram uma estabilização de suas classificações, depois das reduções em conseqüência dos ataques terroristas de 2001 e da queda das bolsas e das taxas de juros, disse Porrino.
Deve ser particularmente notada a capacidade das subscritoras de fazer frente às indenizações depois dos quatro furacões que se abateram sobe a Flórida em agosto e setembro. As tempestades provocaram, ao que se estima, prejuízos de US$ 20 bilhões a US$ 21 bilhões em valores de 2003, ligeiramente superiores aos causados pelo furacão Andrew em 1992, e pouco menos do que aos dos ataques terrorristas contra o World Trade Center e o Pentágono, em 2001. "É espantoso que não tenha havido deslocamentos e muito pouco prejuízo para as companhias", disse Porrino.
Ele atribuiu os resultados ao fato de que estas utilizaram simulações de catástrofes, um número maior de exclusões e restrições, itens dedutíveis mais elevados, o Fundo de Catástrofes/Furacões da Flórida e reduziram a ênfase no crescimento nas áreas propensas a catástrofes. Ele disse que uma única seguradora ficou insolvente por causa das tempestades. E outra poderá falir.
Depois de registrar queda em seus retornos sobre o capital em comparação com a média de cerca de 13%, em meados de 90, para menos de 6%, em 2001, as seguradoras do setor vida voltaram aos seus retornos médios de quase 12% graças ao crescimento dos ativos e à redução dos gastos gerais. O crescimento dos ativos das seguradoras do ramo vida ficou em faixa menor de 3% a 8%, desde 1999, e atualmente é de cerca de 6%. O crescimento dos ativos em prêmios anuais oscilou consideravelmente (de 1% para 15%) por causa dos vínculos com as Bolsas, e atualmente é de cerca de 7%, disse Porrino.
Efeito Eliot Spitzer
As práticas de negócios nos seguros de responsabilidade civil e propriedades e de seguro de vida poderão sofrer as conseqüências das recentes investigações nos seguros comerciais de propriedades e responsabilidade civil, onde o Procurador Geral de Nova York, Eliot Spitzer, e reguladores federais e estaduais apresentaram provas de acordos fraudulentos, vinculação com resseguradoras e manipulação por parte de corretoras. Porrino prevê que os seguros pessoais serão os próximos a sofrer a pressão para reformularem suas práticas de negócios, seguidas pelos seguros de vida em 2005. Segundo ele, as multas não deverão ser consideráveis nas áreas de seguros pessoais e de vida, mas previu que aumentarão as exigências de apresentação de informações sobre incentivos e compensações.
O que acontecerá com a distribuição no ramo de vida poderá ser dramático, disse Robert W. Stein, "chairman" de serviços financeiros globais. "Quando você puxa o primeiro cordel, não sabe como se desenrolará o resto", comentou o consultor da Ernst & Young.
kicker: Seguradoras pressionadas por custos, vendas fracas e canais de distribuição