Título: Mantega assume e nomeia o assessor Fiocca como diretor
Autor: Mônica Magnavita e Samantha Lima
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/11/2004, Nacional, p. A5

O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o ex-ministro do Planejamento Guido Mantega, assumiu ontem o comando da instituição depois de ter passado cerca de quatro horas em conversas com o ex-presidente Carlos Lessa. Mantega passou o dia no banco ao lado de Demian Fiocca, que foi o chefe da assessoria econômica do ministério do Planejamento, tomando conhecimento das operações da instituição.

Fiocca integrará a direção do BNDES, mas hoje estará no Congresso, em Brasília, como representante do Planejamento em debate sobre o projeto das Parceria Público-Privada (PPP), uma das principais bandeiras da gestão de Mantega, no Planejamento. Agora, o desafio para o presidente do BNDES será outro: demonstrar que os créditos direcionados não são responsáveis pelos spreads elevados cobrados pelos bancos no Brasil. A tese, defendida pelo presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na visão de Lessa atinge diretamente o BNDES, responsável por cerca de 20% do total de créditos direcionados no País. E teria como objetivo a "destruição do Banco", nas suas palavras.

Na sexta-feira passada, o vice-presidente, Darc Costa, e os diretores de Comércio Exterior, Luiz Eduardo Melin, e o diretor Financeiro e de Inclusão Social, Márcio Henrique Monteiro de Castro encaminharam suas cartas de demissão a Mantega, mas permanecerão no cargo até serem substituídos. Ontem à tarde, os três tiveram reuniões separadas com o novo presidente.

Após a reunião com Mantega, Lessa ministrou a aula final da sétima turma do curso de "Especialização em Desenvolvimento Econômico e Social" em auditório com cerca de 300 servidores, sendo 40 alunos. O professor da UFRJ, que retomará suas atividades na universidade, voltou a elogiar a criatividade do brasileiro e fez críticas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

"Ele quis privatizar tudo o que era público: a educação, a saúde e a segurança. Os tucanos tentaram desviar o banco de sua função histórica, de desenvolvimento, dos sonhos dos brasileiros para se tornar o banco da privatização. Mas isto está sendo recuperado. E vocês vão recuperar este banco".

Lessa agradeceu a Lula "pelo aprendizado" que lhe foi "proporcionado". No fim, pediu aos funcionários que só aprovassem "projetos de interesses nacionais" e deixou o auditório sob fortes aplausos. "Vocês, a elite burocrática que resistiu à devastação fernandiana, têm que perceber, em suas análises, quais são os projetos que reforçam os interesses nacionais. Isso nada tem a ver com o tamanho da empresa".

Darc Costa, que pediu demissão do cargo de vice-presidente do banco na sexta-feira, resolveu não dar entrevistas, voltando atrás na decisão anunciada anteriormente. Funcionário do banco aposentado, ele comentou que poderá viajar de férias, sem informar se possui algum projeto. No sábado, em seu último ato como vice-presidente do BNDES, Darc Costa recebeu na sede do banco, no Rio de Janeiro, uma delegação de mais de 20 autoridades e empresários da Rússia, liderada pelo ministro da Indústria e Produção, Boris Alioshin.