Título: Problemas para reestruturar dívida
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Fonte: Gazeta Mercantil, 23/11/2004, Internacional, p. A9

Se houver troca de títulos na próxima semana, poderá ser só no país. Para italianos, isso é ilegal. O ministro da Economia da Argentina, Roberto Lavagna, disse ontem que mantinha a oferta de restruturação da dívida do país em default, de US$ 103 bilhões, mas que a operação de troca dos títulos poderá se complicar, em especial no exterior, devido aos obstáculos que surgiram nos últimos dias, segundo informava ontem à tarde o site na internet do jornal Clarín. "Neste momento, está se redesenhando todo o processo", disse ele. O governo se comprometeu a abrir a troca de títulos na próxima segunda-feira, e a fechá-la em 17 de janeiro.

Credores italianos afirmaram que se o lançamento ocorrer apenas na Argentina, como disse Lavagna, seria uma operação ilegal. Isso porque não colocaria os credores em pé de igualdade. O lançamento só na Argentina abrangeria cerca de 30% dos U$ 81,8 bilhões do valor de face dos títulos. Depois de levar três anos para preparar a restruturação da dívida, a repentina ansiedade da Argentina para realizá-la no período de dois meses criou uma dor de cabeça. O Bank of New York (BK), escolhido pelo país como o agente cambial de sua oferta, informou na semana passada que havia enfrentado problemas logísticos na preparação da monumental transação internacional. Isso parece ter deixado o governo com dificuldade para encontrar um substituto que possa ajudá-lo a ater-se ao seu compromisso de abrir a troca da dívida na próxima semana.

Houve conversas com o JP Morgan Chase para que substitua o Bank of New York. Mas até o fechamento desta edição, a substituição não havia sido confirmada. Os agentes cambiais coordenam o trabalho de retaguarda das ofertas do mercado, reunindo câmaras de compensação, banco de custódia e investidores participantes. "Complica-se um pouco a operação e é possível, sobretudo em algumas praças internacionais, que isso (a saída do BK) gere algumas demoras", afirmou o ministro.

O BK, em carta ao secretário das Finanças, Guillermo Nielsen, disse quinta-feira que "não terá outra escolha senão abrir mão de seu papel de Agente de Câmbio Global", a não ser "que sejam introduzidas algumas mudanças no processo". Fontes a par da questão afirmavam que o banco ainda não havia retirado formalmente seus serviços. Um comunicado do ministério indicou, na noite de sexta-feira, que o governo estava levando adiante seus planos de uma forma que apontava para o fim inevitável de seu acordo.

Segundo cópia de uma carta do banco obtida pela Dow Jones Newswires, o BK exigia, entre outras coisas, que a Argentina deixasse de insistir na data de 29 de novembro, a fim de ganhar mais tempo para garantir "componentes cruciais" na preparação do lançamento.

Mas na declaração de sexta-feira, o ministério prometeu o lançamento naquela data, usando os serviços da câmara de compensação nacional, Caja de Valores SA, e disse que "estenderia a troca a toda jurisdição na qual obtiver a necessária aprovação das autoridades regulamentadoras e intermediários". O mesmo reconhecia que isto não incluiria a Itália, porque citava uma declaração do organismo regulador italiano, o Consob, prevendo que a aprovação final naquele país não se concluiria antes da segunda metade de dezembro.