Título: Cognis busca liderança de mercado e investe em nova fábrica
Autor: Virgínia Silveira
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/11/2004, Indústria & Serviços, p. A11

A filial brasileira da alemã Cognis, líder mundial em especialidades oleoquímicas, está produzindo no Brasil um lubrificante sintético, da linha Pro Eco, fornecido para empresas fabricantes de compressores para sistemas de refrigeração. A Cognis é a primeira empresa da América Latina a fabricar um lubrificante dessa categoria no Brasil e já detém 50% de participação nas vendas locais do produto. Seus principais clientes são a Embraco e a Tecumseh.

"A nossa meta é atingir 100% de market share nesse segmento até o final do próximo ano", disse Rubens Becker, presidente da Cognis Brasil. A empresa investiu US$ 3 milhões na instalação de uma nova unidade no complexo industrial de Jacareí (SP) para produzir o lubrificante. As novas operações, que começaram a funcionar em maio deste ano, têm capacidade para produzir 4 mil toneladas por ano. Em 2004, segundo Becker, a Cognis prevê uma produção de duas mil toneladas.

A linha Pro Eco utiliza um óleo sintético, feito à base de éster, produto que substitui o uso de óleo mineral, gerando ganhos ambientais. Introduzido no mercado desde o início dos anos 1990, o lubrificante ainda é importado em parte pelos fabricantes de compressores da Europa e dos Estados Unidos. Um dos motivos da instalação da nova fábrica no Brasil, segundo a Cognis, foi o fato dos fabricantes nacionais terem uma participação expressiva no mercado mundial de compressores, da ordem de 25%.

A Ásia é outro mercado em que a Cognis está de olho. "O grupo tem a intenção de construir uma fábrica de óleo sintético na China. Hoje a empresa exporta o produto para lá por meio de sua fábrica nos EUA". O mercado asiático, segundo Becker, é estratégico, pois a produção de geladeiras está em franca expansão. "É mais barato fabricar o óleo próximo do fabricante de compressores". No ano passado, as vendas globais da Cognis foram de ¿ 2,95 bilhões.

Amaciante de cupuaçu

A empresa também acaba de lançar um novo tipo de amaciante industrial, produzido a partir da manteiga extraída da semente do cupuaçu na Amazônia. O óleo de cupuaçu substitui o silicone usado como amaciante de tecidos. A Indústria Têxtil Dohler, de Joinville (SC), de acordo com Beckher, aplica o amaciante produzido pela Cognis em toalhas destinadas ao mercado externo.

Conhecido pela marca Amazon Tex TGB, o amaciante foi desenvolvido dentro da política da empresa de fabricar produtos ecológicos, biodegradáveis, à base de matérias-primas reonováveis e que garantam o desenvolvimento sustentável da região amazônica. A manteiga de cupuaçu foi utilizada, neste caso, devido ao seu alto poder de absorção de água e por suas propriedades amaciantes e dermatológicas, afirmou Becker.

"O amaciante à base de cupuaçu custa o dobro de um amaciante convencional, porque a produção do óleo na Amazônia ainda é muito pequena. O nosso objetivo, no entanto, além de preservar o ecossistema da Amazônia, é melhorar as condições sociais e econômicas dos habitantes da região amazônica, criando uma alternativa de renda, baseada em um modelo de desenvolvimento regional". O projeto "Amazon Care Chemicals" começou a ser desenvolvido pela Cognis em 1999.

Comunidades do Amapá, Amazonas e Rondônia, organizadas em cooperativas, fornecem para a empresa o óleo de castanha do Pará, andiroba e pequiá, além da manteiga de cupuaçu. Os equipamentos (prensas e filtros) usados na produção e a tecnologia de fabricação dos óleos foram cedidos pela Cognis. Antes da parceria com a Cognis, as comunidades amazônicas se dedicavam à produção de farinha de mandioca e ao pescado.

A Cognis também fornece o óleo de cupuaçu para empresas como a Natura, que utiliza o produto em sua linha Ekos de cosméticos. O óleo é fornecido, principalmente, pela comunidade amazônica Reca (Reflorestamento Econômico Consorciado Adensado), localizada em Rondônia, e que deve faturar US$ 500 mil com a venda do produto para a Cognis em 2005. A comunidade é formada por 220 famílias.

Segundo Becker, a matriz da Cognis estuda a possibilidade de levar a tecnologia desenvolvida pela filial com os óleos da Amazônia para a Europa. "A empresa pensa em importar o óleo pronto ou a poupa da manteiga de cupuaçu para produzir o óleo lá", disse. "As comunidades amazônicas têm condições de ampliar em até 15% a produção anual desses óleos e se tornar uma agroindústria de fato", disse.

A parceria da Cognis com as comunidades da Amazônia, conta com o amparo legal do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que concedeu o certificado de origem ao produto, para a extração constante e controlada das matérias-primas. O projeto Amazon Care Chemicals também é feito em conjunto com o Centro Nacional de Populações Tradicionais e Desenvolvimento Sustentável.

kicker: Empresa alemã utiliza manteiga de cupuaçu para a produção amaciante industrial