Título: Produtores de algodão tem mesma demanda
Autor: Sérgio Prado
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/08/2004, Política, p. A-7

Os produtores de algodão têm uma demanda semelhante a dos que plantam soja em todo País, em especial no Centro-Oeste. E tentam convencer Executivo e Legislativo da necessidade de liberar o uso de espécies transgênicas na próxima safra, que começa a ser cultivada na primavera. O cerne do debate é a inclusão da produção brasileira no cenário internacional, depois da vitória na Organização Mundial do Comércio (OMC).

A decisão do organismo multilateral levará a eliminação de subsídios nos Estados Unidos, o maior produtor mundial, com 4,4 milhões de toneladas ao ano. Isto beneficiaria países como Brasil. Para manter competividade no mercado externo, o País precisa ter baixo custo, e isso dependeria da utilização de transgênicos. Este rumo é apontado como sem volta pela Associação Brasileira de Produtores de Algodão (Abrapa). "Ou o Brasil adota esta tecnologia ou ficará fora do mercado do algodão, pois este foi o caminho adotado por nossos concorrentes", diz Helio Tollini, diretor executivo da Abrapa, que acompanha o tema em Brasília.Outro fato circunstancial, que aumenta a pressão para uma decisão rápida do governo, a fim de legalizar os transgênicos, veio à tona nos últimos dias. Muitos fazendeiros compraram sementes, convencidos de que eram convencionais, mas as análises mostraram indícios de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs). E o governo prometeu fiscalização dura contra quem estiver fora da lei, pois os trangêncos ainda estão proibidos.

"Se por hipótese, este tendência se confirmar em longa escala, seria um prejuízo imenso para todo o setor", avisa Tollini. Segundo o deputado Luis Carlos Heinze (PP-RS), da Comissão de Agricultura da Câmara, a idéia de liberar logo também o algodão transgênico é bem aceita no Congresso. "Faremos o possível para incluir esse setor na legislação a ser votada, seja ela medida provisória ou projeto de lei". Ele ressalta que há apenas um problema de burocracia a mais em relação à soja. É a falta de um parecer favorável da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNbio). "Isso pode ser resolvido com rapidez", diz Tollini.

Animados com o desempenho de 2003/2004, os agricultores pensam em repetir este ano a colheita de 1.255 toneladas de algodão em pluma. Trata-se de um avanço formidável, se for considerado que em 96/97 a produção nacional foi quase dizimada, ao despencar para 306 mil toneladas, em função de pragas e da política do governo central, o qual liberou as importações, afirma a Abrapa. Da época até agora, o perfil do setor mudou de forma radical, com profissionalização do plantio e entrada de grandes produtores. Sem falar que agora, o Centro-Oeste abriga a maior área produtiva, antes dominada pelo Sul, Sudeste e Nordeste.