Título: O novo compulsório não altera taxas
Autor: Maria de Lourdes Chagas
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/11/2004, Finanças & Mercados, p. B2

As taxas de juros cobradas do tomador final de crédito fecharam sem alterações ontem, mesmo com a nova regra do compulsório. Na sondagem realizada pela InvestNews com instituições financeiras, os empréstimos direcionados para as empresas, como o hot money, finalizaram com taxas entre 3,78% e 5,50% ao mês. No vendor e compror, as taxas ficaram entre 37,74% e 64,13% ao ano. Nas operações com capital de giro, o custo variou de 44,78% a 70,63%, considerado o período de um ano.

O Banco Central (BC) alterou na sexta-feira a regra de compulsório dos bancos sobre depósitos a prazo, para aumentar a liquidez de instituições de menor porte, que estava reduzida após a intervenção no Banco Santos.

Segundo o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel José Ribeiro de Oliveira, esta nova regra não deve ter muitas mudanças nas taxas de crédito, principalmente, porque para uma queda mais acentuada nas taxas de juro dos empréstimos seria necessário uma redução nos juros básicos da economia. O executivo ressalta que esta redução foi apenas para aumentar a liquidez de instituições de pequeno e médio porte, ou seja, esta medida não visa direcionar os recursos liberados para a atividade produtiva, e sim para equilibrar os recursos disponíveis no caixa dos bancos pequenos e médios que sofreram com a intervenção.

Pela nova regra, os bancos só recolherão ao BC o compulsório sobre depósitos a prazo que exceder o montante de R$ 300 milhões. Como a alíquota foi mantida em 15%, isso significa que cada instituição com saldo de depósitos a prazo inferior a R$ 2 bilhões está desobrigada do recolhimento.

Bom fim de ano

Após a queda de 2,0% no mês de setembro, as concessões de crédito voltado ao consumo aumentaram 3,5% em outubro, somando R$ 32,5 bilhões, segundo estudo da Partner Consultoria. Em relação ao mesmo período de 2003, no entanto, a alta foi de 5,4%. Embora o mês tenha tido um dia útil a menos que setembro, todas as modalidades de crédito seguiram em trajetória de alta.

Os adiantamentos ao depositante (empréstimos de curtíssimo prazo), o penhor e os financiamentos de bens como eletroeletrônicos, móveis e materiais de construção foram os destaques do mês. O financiamento de bens normalmente aumenta em outubro, por conta da expectativa de recebimento da primeira parcela do décimo terceiro salário, que ocorre em novembro - este ano há um fator adicional: a melhora na expectativa das pessoas.

As constantes campanhas realizadas pelos bancos a fim de aumentar os empréstimos e atrair mais correntistas também estimularam o crescimento. "O aumento de tomada de crédito demonstra uma melhora do nível de confiança do brasileiro em relação à economia", diz Álvaro Musa, sócio-diretor da Partner Consultoria.

Segundo o mesmo estudo, o saldo total das linhas voltadas ao consumo alcançou a marca de R$ 107,5 bilhões, um aumento de 1,8% em relação a setembro. Na comparação com outubro de 2003, a alta foi de 19,6%.

Com exceção do cheque especial e do cartão de crédito, os demais produtos apresentaram alta no volume de saldo.A aquisição de outros bens subiu 7,3% em relação ao período anterior. O financiamento de veículos, impulsionado pelo baixo patamar de concessões, teve um pequeno aumento de 0,7%. O crédito pessoal, que em outubro ultrapassou a marca dos R$ 40 bilhões, aumentou 3,7% no mês e 32,6% no ano.

Na ponta da linha

Acompanhando o processo de alta da taxa básica de juros, a Selic, que se iniciou em agosto deste ano, a taxa de juros média cobrada na ponta também está subindo, de acordo com a Partner. Em outubro, pelo terceiro mês consecutivo, o índice subiu 0,9 ponto percentual, passando para 64,1% ao ano.

A maior elevação foi registrada na modalidade aquisição de bens, que passou de 60,6% ao ano em setembro para 61,3% ao ano em outubro. Depois de passar os meses de agosto e setembro inalterados, os juros do cheque especial voltaram a subir, alcançando 141,0% em outubro, o que explica, em parte, a queda na preferência pela modalidade.

kicker: No segmento de consumo, concessões aumentaram 3,5% em outubro

kicker2: Estudo da Partner mostra comportamento dos juros, depois das altas na Selic