Título: Saca de café é vendida por R$ 8 mil
Autor: Alexandre Inacio
Fonte: Gazeta Mercantil, 23/11/2004, Agribusiness, p. B12

Leilão da Abic alcança novo recorde mundial de preços, superando produto da Guatemala. O produtor Daltro Noronha Barros, proprietário da Fazenda Transwal, no município de Cristina, sul de Minas Gerais, é o dono da saca de café mais cara do mundo já comercializada em um leilão. Os 60 quilos do grão foram arrematados pelo valor de R$ 8.001,01 (US$ 2.857,50), superando o valor de US$ 2,6 mil pagos por uma saca de café, em leilão na Guatemala.

O lance foi dado por um consórcio de indústrias nacionais, composto pelo Café Bom Dia, Café Damasco, Cia. Cacique, Café Santa Clara, Café Floresta e Toko Indústria e Comércio. As 10 sacas de café que compõem o lote serão divididas entre as empresas para que sejam industrializadas e vendidas no mercado brasileiro a partir de março do próximo ano.

"Esse valor nos surpreendeu e consolida a região como uma grande produtora de cafés de qualidade", afirma Pedro Lisboa, sócio na Fazenda Transwal. O resultado foi tão bom que os produtores já pensam em ampliar de 2,9 mil para 4,5 mil sacas a produção da fazenda em 2005.

"O valor pago pelas indústrias torrefadoras mostra que o café mais valioso do mundo está no Brasil e, ao contrário do que se pensa, será destinado para o consumidor brasileiro. Afinal, o brasileiro também tem o direito de tomar um bom café", afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic).

Produto nas gôndolas

O lote de café mais valioso do mundo, juntamente com outros nove lotes de dez sacas foram adquiridos no primeiro concurso nacional de qualidade de café, promovido pela Abic, no último sábado. As cem sacas negociadas farão parte de uma edição especial dos melhores cafés do Brasil e estarão nas gôndolas dos supermercados a partir do próximo ano.

O reconhecimento da qualidade do café brasileiro não está sendo dado apenas pelas indústrias nacionais. A japonesa Maruyama Coffee, comprou um lote de 27 sacas por US$ 48.759,17, ou seja, US$ 1.805,90 por saca. O vendedor foi Joaquim José de Carvalho Dias, de São Sebastião da Grama (SP), vencedor do 6º Concurso de Qualidade Cafés do Brasil, organizado pela Brazil Specialty Coffee Association (BSCA).

Na avaliação de Sílvio Leite, presidente do júri internacional que avaliou os cafés que participaram do concurso da BSCA, a valorização do café brasileiro mostra a existência de um nicho de mercado que exige uma qualidade superior e está disposto a pagar mais por isso. "Os consumidores também perceberam que o produto é diferenciado e que merece um preço superior", afirma Leite.

Aumento das exportações

A qualidade do café brasileiro está sendo tão reconhecida no mercado internacional que, em apenas seis anos, as exportações de cafés de alta qualidade saíram de zero para 1 milhão de sacas. O volume, apesar de aparentemente baixo, representa 30% do mercado mundial de cafés de alta qualidade, que movimenta anualmente 3 milhões de sacas do grão.

"O mercado mundial de cafés finos cresce em média 12% ao ano, enquanto o crescimento dos cafés tradicionais não ultrapassa a marca de 1%", afirma Leite. Segundo o especialista, o Brasil é o único país capaz de atender um aumento de demanda dessa ordem.

Preços remuneradores

Mais do que ter o café mais valioso do mundo, o Brasil está interessado nos resultados financeiros que esse produto tem no mercado. Enquanto uma saca de café é negociada em média por R$ 250 (sul de Minas) no mercado, no leilão da Abic o preço médio foi sete vezes maior e chegou a R$ 1.870 a saca.

A procura por cafés de qualidade também está fazendo com que os preços subam na bolsa de Nova York. Ontem, os contratos com vencimento em março foram negociados a 92,85 centavos de dólar por libra-peso, uma valorização de 2,43% em relação ao preço registrado na última sexta-feira.

O mercado internacional está preocupado com a oferta de cafés arábicas. Os operadores acreditam que como os produtores brasileiros estão vendendo apenas o suficiente para pagar as contas, a Colômbia e a América Central não terão como suprir a ausência do café brasileiro do mercado.