Título: Golpe evitado na Câmara
Autor: Santos, Leonardo
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2011, Política, p. 4

CONGRESSO

A Polícia Legislativa da Câmara desbaratou um ousado plano de golpes na Sede do Legislativo Federal. O caso foi registrado em inquérito enviado ao Ministério Público Federal na última terça-feira. O Correio teve acesso às investigações, que descrevem como o grupo criminoso tentou se aproveitar da circulação de quase 20 mil populares no Congresso nos dias de maior movimento. Sidney Pereira Lima, 24 anos, foi detido logo na entrada do parlamento porque a polícia já sabia de sua missão: recolher dados obtidos em um aparelho usado para roubar senhas de cartões de clientes que utilizam os caixas eletrônicos da Casa. Os artefatos, conhecidos como ¿chupa cabras¿, haviam sido instalados um dia antes por dois suspeitos de serem comparsas de Sidney: Antônio Marcos Ferreira e Ricardo Ferreira da Silva.

A Polícia Legislativa chegou aos três após uma queixa registrada pelo gerente da agência da Caixa Econômica Federal que fica ao lado da Chapelaria. De acordo com o registro, um funcionário do banco identificou uma falha em um dos caixas. Após verificação do sistema, foi possível localizar os equipamentos utilizados para copiar os dados e senhas dos cartões bancários. Alertada, a polícia abriu inquérito para investigar o caso.

Com base nos registros de entrada e saída dos visitantes da Câmara e com o uso de imagens do circuito interno de segurança, os investigadores conseguiram monitorar a circulação dos bandidos e identificar o momento da instalação dos equipamentos. De acordo com a investigação, os suspeitos estudaram minuciosamente o ambiente por pelo menos cinco meses. Os registros de entrada e saída dos visitantes mostram que um dos investigados entrou 16 vezes na Casa entre setembro de 2010 e fevereiro deste ano, antes de aplicar o golpe.

Fornecedores A Delegacia de Defraudações da Polícia Civil do Distrito Federal também foi alertada para apurar os possíveis fornecedores de equipamentos eletrônicos do bando. A investigação indica que o grupo pego no Congresso integra uma rede criminosa extensa.

Sidney e Ricardo já tinham ficha criminal registrada pela Polícia Civil. Até junho do ano passado, o endereço de Sidney era a Ala C do Complexo Penitenciário da Papuda. Ele cometeu o crime no Congresso graças ao benefício de liberdade provisória conquistada para aguardar fora da prisão o julgamento por furto flagrado pela 6ª DP, no Paranoá. Agora, foi indiciado pelo crime de tentativa de estelionato em concurso de pessoas, previsto no Código Penal Brasileiro.

Os outros dois investigados foram indiciados e negam a participação. Em caso de condenação, os acusados podem pegar de um a cinco anos de prisão. Pela Constituição, cabe à Polícia Legislativa investigar qualquer crime ocorrido nas dependências do Congresso ou nas residências oficiais.

Outras denúncias Uma outra investigação a partir de denúncias feitas por usuários de bancos está em andamento para verificar se o grupo conseguiu de alguma outra forma de obter vantagens na Casa. A Polícia Legislativa sabe que o bando também tentava roubar envelopes de depósitos feitos nos caixas eletrônicos. Os investigadores acreditam, contudo, que o grupo não tenha conseguido roubar informações bancárias porque foram pegos antes da retirada dos equipamentos.