Título: PT cederá espaço às outras legendas
Autor: Pardellas, Romoaldo de Souza e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2004, Política, p. A8

Idéia do presidente é contemplar PMDB, PP e PTB com ministérios administrados pelos petistas. Para melhorar o funcionamento do Executivo, sustentado pela chamada "administração de coalizão", o Palácio do Planalto e o PT anunciam que vão abrir espaços na estrutura administrativa aos aliados. O quebra-cabeça da reforma ministerial, contudo, passa pelas Presidências da Câmara e do Senado. Com a emenda da reeleição quase enterrada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deseja que um dos ministros escolhido pelo Planalto para desembarcar da Esplanada seja o candidato do PT para disputar, com o apoio da bancada governista, a presidência da Câmara.

Esta tese foi manifestada pelo presidente Lula aos dezessete dos 18 ministros do PT que compareceram anteontem à noite na Granja do Torto. Com isso, os petistas perdem uma significativa fatia no bolo do poder federal. Deverão ganhar mais espaço no rearranjo ministerial o PMDB e o PP. O PTB também deverá ser contemplado com uma pasta.

A compensação ao PT será a presidência da Câmara, com o candidato petista, provavelmente um ministro, sendo ungido pela base governista. "Os cargos precisam ser distribuídos para essa força que a gente precisa montar", disse o presidente do PT José Genoino (SP) durante a abertura do encontro.

Ontem, as declarações do presidente foram endossadas pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Seguramente o PT facilitará a vida do presidente da República para escalar a seleção do Brasil e montar o melhor time para jogar esse segundo tempo", disse Mercadante, para quem a cessão dos cargos "é uma orientação do presidente do partido, do Diretório Nacional, e é a visão de toda a equipe de governo petista".

Como apenas os deputados podem ocupar a Presidência da Câmara, a escolha estará restrita a três nomes: os ministros do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, do Trabalho, Ricardo Berzoini e da Casa Civil, José Dirceu. Hoje, o mais cotado para assumir o posto, terceiro cargo mais importante do país na hierarquia federal, é Patrus Ananias. Desgastado na área social, o ministro , além de agradar a base aliada, teria o perfil ideal para conduzir a agenda positiva que o governo pretende cumprir no ano que vem.

Balanço de 2 anos

As alterações na Esplanada dos Ministérios devem estar concluídas até o dia 10 de dezembro, data da próxima reunião ministerial. A fim de evitar injustiças na hora das demissões, durante o encontro o presidente Lula pediu um balanço das atividades de cada pasta nesses dois anos de governo. Embora saiba o que está ou não rendendo a contento na estrutura administrativa federal, o presidente quer evitar reclamações dos candidatos à exoneração. Durante a reunião cada ministro petista falou por 10 minutos sobre a experiência dos últimos dois anos de governo federal.

Segundo Genoino, foi uma conversa "franca, solta, muito aberta e sem cobranças". Mas negou que tenha se falado de mudanças no Ministério e de avaliação sobre as eleições municipais em outubro.

Pedidos do presidente

Ao partido, no entanto, o presidente Lula pediu que afinasse o discurso. Trabalhar em consonância com as diretrizes estabelecidas pelo governo e ter uma postura mais coesa e ofensiva, na defesa do Executivo federal. "O PT tem de estar mais ajustado, mais ofensivo e mais informado das ações, dos programas e das estratégias de governo", afirmou o presidente do PT, na abertura do encontro.

José Genoino ressaltou que é muito importante o governo federal mostrar suas realizações.