Título: Dividido, o PMDB se reúne com Lula para definir participação
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2004, Política, p. A8

A bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, que almoça hoje com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, está mais dividida do que nunca. Os ministros das Comunicações, Eunício Oliveira e da Previdência, Amir Lando, foram ontem pessoalmente ao Congresso para evitar um esvaziamento do encontro. No Senado, está em gestação uma nota conjunta de parlamentares das duas Casas pedindo o adiamento da convenção do partido, marcada para o dia 12 de dezembro. "O problema não é matemático, é político", resumiu o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

A troca de farpas começou cedo. Após retornar de reunião no Palácio do Planalto, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), defendeu o adiamento da convenção do PMDB. Sarney foi duro e direto, ao garantir que a maioria dos peemedebistas não desejam a convenção de dezembro. "O pensamento do presidente Michel Temer não expressa as idéias de grande parte dos membros do partido, uma vez que a maioria da comissão executiva do partido, composta por 17 diretórios regionais e as bancadas da Câmara e do Senado, são contra a saída do governo", frisou Sarney.

A resposta foi imediata. O deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), primeiro-secretário da Câmara, fez um desafio aos correligionários governistas, afirmando que, quem tem maioria, não pode temer a convenção.

O deputado baiano ironizou as declarações de Sarney, afirmando que, por ter tanta força e prestígio no partido, o presidente do Senado deveria provar, no dia 12 de dezembro, que sua posição é majoritária. Ele reconheceu a importância das bancadas do PMDB no Congresso (76 deputados e 23 senadores), mas acrescentou que elas não são a última instância de decisão. "Só a convenção nacional pode fazer com que todos se curvem diante de uma decisão."

Geddel acrescentou que chegou o momento de o PMDB passar a cuidar de seus interesses e deixar que o governo cuide dos dele. O deputado afirmou que o PMDB aceita um governo de coalização para discutir seriamente a reforma política, tributária e não, para transformar a governabilidade em um "guarda-chuva onde, por debaixo, são protegidos todos os interesses menos os da nação". "Vamos rasgar a fantasia. Quem quiser prestar serviços ao governo que diga. Quem quiser o PMDB forte, que lute", disse Geddel.

O ministro das Comunicações Eunício Oliveira não se impressionou com o discurso de Geddel. Segundo ele, não está em jogo uma questão de cargos, mas de coalizão governamental. Acrescentou que este é um desejo majoritário na legenda e quem o apóia merece respeito. "Fazer uma convenção para rachar o partido não é lógico. Se for para fortalecer o PMDB, eu defendo. Mas o meu entendimento é de que a maioria tem de ter o comando do partido. Os demais tem de respeitar", cobrou Eunício.