Título: Gerdau vai vender ações ON em leilão e surpreende mercado
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2004, Indústria & Serviços, p. A12

O anúncio da venda de 10% das ações ordinárias da Gerdau S.A. (10,3 milhões de ON), ou o equivalente a 3,5% do capital total, em um leilão público na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) pela família Gerdau, surpreendeu os especialistas de mercado, gerando especulações sobre o objetivo real do leilão, previsto para ocorrer até o fim do ano. O analista Marcelo Aguiar, da Merrill Lynch, por exemplo, avaliou que a operação só se justificará se fizer parte de um projeto maior de reestruturação da companhia.

Segundo a direção da siderúrgica, a venda terá como meta aumentar a liquidez dos papéis negociados em bolsa e, em consequência, sua valorização. Mas os relatórios de analistas do setor siderúrgico divulgados ontem questionam o êxito da operação. Marcelo Aguiar, por exemplo, é um dos que duvidam que o leilão vá resultar num aumento significativo da liquidez, em função da pequena quantidade de negócios fechados atualmente.

De acordo com ele, as ações ordinárias têm liquidez muito reduzida, de apenas R$ 100 mil por dia (os acionistas minoritários controlam 11% das ações ordinárias) e mesmo considerando um aumento do fluxo de negócios em 10%, ou R$ 405 milhões ao preço de fechamento de R$ 39,55 por ação, a liquidez permaneceria baixa para essas ações. Os acionistas minoritários controlam 71,6% das ações preferenciais ou o equivalente a R$ 6,26 bilhões.

Liquidez reduzida

"Não está claro para nós por que os controladores da Gerdau venderiam uma participação controladora (ações ordinárias), ao preço de mercado, operação que, no fim, não melhoraria a liquidez de modo significativo", disse Aguiar, em seu relatório divulgado a clientes. A seu ver, a iniciativa seria bem vista pelos minoritários caso resultasse em uma única classe de ações (hoje há quatro - as ordinárias e preferenciais da Gerdau Metalúrgica e as da Gerdau SA).

Essa estratégia simplificaria a estrutura da empresa e aumentaria a liquidez dos papéis, a exemplo do que fez o Unibanco, ao criar as chamadas units. Os motivos para a venda de 10,1% das ações da família Gerdau emitidas pela Metalúrgica Gerdau são outros, no entender de Aguiar. Estas ações são negociadas com ágio de 3% em relação às ações preferenciais. `Portanto, por que vender ações controladoras a preços baixos?", questionou Aguiar. Já o analista do Bear Sterns, Daniel Altman, levanta a hipótese de que a decisão tornaria mais fácil a saída de algum acionista no futuro.

Outra especulação gerada com a notícia da venda das ordinárias da família está ligada a uma possível decisão da Gerdau em adquirir ativos siderúrgicos no País. É bem verdade que o valor a ser obtido no leilão - cerca de R$ 550 milhões nas duas empresas -, de acordo com cálculos de analistas, está longe do necessário para garantir qualquer aquisição de vulto. Mas a operação seria um primeiro passo de um processo mais amplo de capitalização.

Recentemente, o presidente do grupo, Jorge Gerdau, declarou que a consolidação da siderurgia mundial era um processo irreversível. E, nesse cenário, era preciso que as empresas brasileiras partissem para a capitalização ou para a fusão, a fim de se tornarem competitivas no mercado global. Os investimentos do grupo para os próximos três anos somam US$ 1,9 bilhão, destinados a ampliar a capacidade instalada no País em 3,3 milhões de toneladas de aço bruto. Com isso, a Gerdau passaria a produzir 10,5 milhões de toneladas por ano em 2007, com possibilidade de chegar a 13,5 milhões em 2008.

A Arcelor, segundo maior grupo siderúrgico internacional, planeja produzir 15 milhões de toneladas de aço no Brasil até 2007, com suas empresas, a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) Belgo-Mineira, Acesita e Vega do Sul.

O pedido de autorização para a distribuição secundária foi protocolado na última segunda-feira na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A operação será coordenada pelo banco Pactual. A Gersul Empreendimentos Imobiliários, controlada pela família Gerdau, venderá 10,1% das ordinárias da Metalúrgica Gerdau (2,8 milhões de ações) e a Metalúrgica Gerdau e a Santa Felicidade (também pertencente à família) venderão 10% das ordinárias emitidas pela Gerdau SA, segundo nota divulgada ontem pela empresa gaúcha.

Siderúrgica do Ceará

A Usina Siderúrgica do Ceará, uma associação da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), da sul-coreana Dongkuk International, e da italiana Danieli, lançou ontem um edital para a compra de energia, no dia 3 de dezembro próximo, em leilão eletrônico. Em uma primeira etapa, a usina terá capacidade de produção de 1,5 milhão de toneladas de placas de aço. Os investimentos estimados são de US$ 700 milhões.