Título: O interesse da Rússia estimula subida do euro
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Fonte: Gazeta Mercantil, 24/11/2004, Finanças & Mercados, p. B2

O euro valorizou-se e atingiu seu sexto recorde este mês em relação ao dólar depois que o Banco Central da Rússia disse que poderá elevar a participação da moeda compartilhada por 12 países europeus em suas reservas cambiais.

"A maior parte das nossas reservas está em dólares, e isso é motivo de preocupação", disse Alexei Ulyukayev, primeiro vice-presidente do conselho administrativo da instituição, à imprensa em Moscou. "Examinando a dinâmica da taxa de câmbio entre o dólar e o euro, estamos discutindo a possibilidade de mudar a estrutura das reservas".

Em relação ao euro, o dólar caiu 7% nos últimos três meses, alcançando o recorde anterior de baixa de todos os tempos, de US$ 1,3074, registrado em 18 de novembro. No câmbio com o iene, o euro se valorizou de 134,58 para 134,75.

"Os bancos centrais estão ficando mais parecidos com administradores de fundos profissionais - eles querem maximizar os retornos", disse Steven Saywell, estrategista-chefe do setor de câmbio do Citigroup Inc. de Londres. "Faz sentido para os bancos centrais reduzir qualquer superexposição agressiva em dólares."

A participação do dólar nas reservas mundiais de moeda estrangeira caiu para 63,8% no final do ano passado, a partir dos 66,9% que detinha dois anos antes, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). A parcela dessas reservas aplicadas em euros subiu de 16,7% para 19,7% nesse mesmo período. "O recado é bem claro - o euro vai concentrar mais preferências comparativamente ao dólar, e o impacto disso será negativo para o dólar", disse Carsten Fritsch, estrategista de câmbio do Commerzbank AG, de Frankfurt.

Queda "bem organizada"

A demanda pelo dólar arrefeceu devido às preocupações a respeito do déficit em conta corrente recorde dos Estados Unidos, que é a medida mais ampla do comércio exterior por incluir alguns fluxos de investimentos. O diferencial negativo alcançou US$ 166,2 bilhões no segundo trimestre deste ano. Quanto maior o déficit, maior a necessidade de converter mais dólares em outras moedas para pagar as importações.

"Sem dúvida, tanto as autoridades da área econômica quanto os participantes do mercado acreditam que um dólar mais fraco, desde que o processo transcorra de forma bem-organizada, é parte do processo de ajuste destinado a reduzir esses desequilíbrios", disse Richard Berner, que trabalha em Nova York como economista-chefe para os Estados Unidos da Morgan Stanley, a segunda maior corretora dos EUA.

A moeda norte-americana despencou no último dia 19, depois de o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Alan Greenspan, ter dito que os investidores estrangeiros poderiam se cansar de financiar o déficit em conta corrente dos Estados Unidos e decidir diversificar seus investimentos para ativos denominados em outras moedas. "A queda do apetite por engordar os saldos em dólares deverá ocorrer em algum momento", disse ele no Congresso Europeu da Atividade Bancária, realizado em Frankfurt.

"Os Estados Unidos estão seguindo uma política de dólar desvalorizado, e a declaração de Greenspan sugere que ele aderiu a essa corrente, preferindo um dólar mais fraco para contribuir com a redução do déficit em conta corrente dos Estados Unidos", disse Fritsch, do Commerzbank.

No momento, as reservas da Rússia em moeda estrangeira e em ouro registram alta recorde de US$ 113,1 bilhões - um terço em euros e o restante principalmente em dólares, disse Konstantin Korishchenko, vice-presidente do conselho administrativo do Banco Central da Rússia, em entrevista concedida este mês.