Título: Reerguer-se: o novo desafio
Autor: Santana, Ana Elisa
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2011, Brasil, p. 16

A escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, deve ficar fechada por mais uma semana depois da tragédia ocorrida na última quinta-feira. A secretária de Educação do Rio de Janeiro, Claudia Costin, anunciou ontem que, nos próximos dias, alunos receberão auxílio de assistentes sociais e de psicólogos, enquanto os professores receberão orientação na própria instituição. Há a possibilidade de retomada das aulas em 18 de abril, mas a volta às atividades ainda depende de uma avaliação da Secretaria de Educação do município, que deve ser feita no fim da próxima semana.

Claudia Costin visitou a escola acompanhada dos ministros da Educação, Fernando Haddad, e de Relações Institucionais, Luiz Sérgio Nóbrega. Haddad afirmou que o ataque foi um caso isolado, que não poderia ter sido evitado, e ressaltou a importância da reabertura da escola para a recuperação da comunidade, abalada com a tragédia. ¿A escola mais segura é a escola aberta à comunidade, porque a comunidade se apropria e não deixa eventos dessa natureza ocorrerem¿, disse o ministro. Quando as aulas voltarem ao normal, a Secretaria de Educação planeja promover a pintura da escola com a participação de pais e alunos para reerguer, segundo Claudia, ¿um lugar sagrado que foi violentado¿.

Recuperar a escola e a comunidade de Realengo após o ataque do ex-estudante Wellington Menezes de Oliveira vai exigir mais esforços do que o ato simbólico de repintar as paredes da instituição. Para especialistas em situações de trauma, intervenções devem ser feitas rapidamente para que os jovens, familiares e professores envolvidos no caso consigam ter as sequelas psicológicas minimizadas, ação chamada de intervenção em crise. ¿Ela tenta evitar as sequelas e os riscos que a situação coloca. O terapeuta tem a função de buscar esperança para aquelas pessoas, vai tentar auxiliar para que eles possam encontrar um modo de enfrentar o trauma com menos sequelas possíveis¿, explica Cibelle Antunes Fernandes, professora da Universidade Católica de Brasília (UCB) e psicóloga da UTI do Hospital de Base do Distrito Federal.

Para ajudar as vítimas do crime, entre crianças, professores e familiares, o primeiro passo é ouvir relatos do que elas viveram, de acordo com a doutora em psicologia e professora da Universidade Brasília (UnB) Suely Guimarães. ¿É preciso abrir um espaço para que elas possam expressar raiva, tristeza, revolta, saudade, medo. Temos que entender o impacto que isso teve para cada uma delas e tentar evitar que isso venha a se consolidar em um estresse pós-traumático¿, afirma a professora. A intervenção, segundo os psicólogos, deve ser direcionada à reação de cada pessoa. ¿Algumas crianças podem desenvolver um medo muito grande, ter alterações no sono, na alimentação, na concentração. Deve haver avaliação e acompanhamento das crianças e das famílias. É possível que daqui a cinco, 10 anos elas ainda apresentem respostas emocionais¿, alerta Suely.

A assistência psicológica falha em algumas situações de urgência, afirma o presidente da Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP), Antônio Geraldo da Silva. ¿O estresse pós-traumático, nesses casos, é grande. O Ministério da Saúde não tem um programa para atuar em catástrofes. Quando aconteceram em Santa Catarina (as enchentes), foi a SBP que prestou apoio à população, com psiquiatras voluntários¿, critica. Segundo o ministério, a assistência do Sistema Único de Saúde (SUS) é garantida aos pacientes que sofrem um trauma, e os atingidos podem ter acesso ao serviço de saúde de várias maneiras, buscando a assistência ou recebendo a visita do programa Saúde da Família, que vai às residências.

Lembranças recorrentes A falta de um acompanhamento correto após tragédias pode resultar em estresse pós-traumático, que, segundo especialistas, pode ser definido como consequência de situações em que a própria integridade é ameaçada. Os primeiros casos do problema foram diagnosticados com veteranos da Guerra do Vietnã, nos anos 1970, segundo o psiquiatra e pesquisador da UnB Raphael Boechat. ¿Eles voltavam aos Estados Unidos e continuavam revivendo as ameaças, as cenas de guerra, e muitos terminavam se suicidando em dependência química. É um quadro de revivência do trauma que não se apaga da cabeça.¿, explica.