Título: Nova visão dos recursos humanos
Autor: Cláudio Emanuel de Menezes
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/11/2004, Opinião, p. A-3

Um grupo unido e baseado em valores comuns é muito poderoso. Negócios, comprometimento e era do conhecimento: à primeira vista estes três assuntos guardam pouca ou quase nenhuma relação entre si. Mas os tempos estão mudando, não é verdade? Na minha convivência com profissionais com quem trabalho, tenho encontrado algumas características em comum, tais como:

1) Querem algo diferente, profissionalmente, do que está sendo ofertado no mercado. A relação de troca entre o tempo dedicado ao trabalho e o tempo dedicado a si mesmo está desbalanceada, na percepção dessas pessoas, ávidas por mais tempo para si mesmas do que nós estávamos acostumados a dedicar.

2) Existe uma busca intensa por crenças, por querer acreditar em algo diferente do que as empresas oferecem. Tenho sentido que existe uma busca por significado, que a remuneração somente não oferece.

3) A palavra comprometimento tem sido usada a torto e a direito pelas empresas e isso tem gerado um certo ceticismo. Entretanto, parece que as empresas não sabem o verdadeiro significado dessa palavra, que é a de estar possuído por uma genuína vontade e intenção de realizar algo, valor muito mais intrínseco e emocional do que externo e racional;

4) Existe um grande potencial em cada um dos profissionais atuais, gerado pela enorme variedade de informação que possuem, mas que acaba não sendo realizado totalmente, pela própria dispersão ocasionada pelo excesso dessas mesmas informações. Estamos hoje em dia vivendo uma época de muito vídeo e pouca leitura, muita ação e pouca análise, muita informação e pouca abstração.

Dá para perceber alguma ligação nisso tudo? Sim, estamos na era do conhecimento, pós era da informação, em que percepção, crença e intuição, junto com a informação, geram o conhecimento e em que a aprendizagem se efetua no processo diário de trabalho. As antigas buscas profissionais por salários, cargos e planos de carreira estão agora se dirigindo para novas buscas que mostrem o significado de estar vivo - as pessoas querem fazer a diferença na vida. Nesse sentido as empresas estão defasadas, pois utilizam modelos industriais de gestão e ainda usam velhas armadilhas para manter seus colaboradores "em ordem", com múltiplos benefícios cujo objetivo, na verdade, é "comprar a fidelidade", em vez de criar comprometimento e crescimento pessoal por meio de escolhas individuais. Parece que, ainda seguindo o modelo industrial, somente os líderes saberiam o que faz as pessoas felizes e o que deve ser desfrutado. Que tal criar um ambiente de genuína confiança, colaboração e valorização de pessoas, permitindo assim o crescimento individual? Essas sim são as recompensas que as pessoas vivas, no sentido de pessoas que buscam sua felicidade, estão procurando. Um grupo unido, e baseado em valores comuns, é muito poderoso e, nesta era em que tudo muda a cada minuto, é a única forma de as empresas reencontrarem o caminho do sucesso, focando em resultados que virão do querer individual de cada um de seus colaboradores.

As empresas podem sim obter resultados por uma gestão mais participativa. Somente por meio dela poderão ser obtidos os consensos necessários para que as pessoas se motivem. Não esqueçamos que motivação e comprometimento são fatores intrínsecos e que dependem da decisão individual de cada pessoa. Dessa forma, serão cada vez mais criativas, a partir de uma grande sensação de liberdade, num ambiente de desafios e estímulo ao seu crescimento. Cabe a cada um de nós, empresários, nos questionarmos se acreditamos nisso ou não. Porque tudo começa com uma crença, e rever os nossos valores e crenças pessoais talvez seja o grande desafio das lideranças nos dias de hoje.

kicker: Existe uma busca por algo diferente do que as empresas oferecem