Título: As capitais da inflação
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2011, Economia, p. 18

Em quatro das principais cidades brasileiras, a inflação estourou a barreira do tolerável no período de 12 meses e disparou além do que o Banco Central previa para todo o país. Brasília, Fortaleza, Curitiba e Belo Horizonte superaram o teto da meta, de 6,5%. Com isso, essas localidades estão ditando o ritmo da carestia no país. O restante das regiões pesquisadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caminha a passos largos rumo a esse patamar. A capital cearense é a recordista até o momento. Lá, o custo de vida encareceu 7,88%. A capital federal aparece em terceiro, com elevação de 7,53%.

Enquanto a autoridade monetária esperava para o país uma inflação acima de 6,5% ¿ no acumulado de 12 meses ¿ apenas no fim do primeiro semestre, os consumidores das quatro capitais com maior inflação estão convivendo com um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nas alturas. Para esses brasileiros, o dragão ressuscitou. E pior: as medidas macroprudenciais (alternativas a aumentos de juros) do governo tentando conter a demanda e corrigir os rumos da economia não estão conseguindo conter o aumento do custo de vida. Elas apenas encareceram financiamentos (leia mais na página 20).

Como o Correio mostrou em reportagem de 27 de março, a escalada inflacionária deste início de ano também está ressuscitando velhos hábitos do período em que os preços estavam descontrolados ao extremo. As polêmicas maquininhas de remarcação de preços voltaram à cena. Os freezers, usados para congelar as promoções, também retornam, aos poucos, à vida de brasilienses, curitibanos, belo horizontinos e fortalezenses. Em Curitiba, a inflação em 12 meses, até março, chegou a 7,75%. Em Belo Horizonte, a meta foi batida no mês passado, quando a cidade chegou aos 6,51% de carestia.

Demanda Para José Luis Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), essa pressão inflacionaria deve-se ao crescimento explosivo dos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional) e à queda no desemprego. Com mais renda, a população está comprando mais e a indústria está com dificuldades de repor os estoques do varejo. Por esses motivos, a seu ver, a inflação vai continuar em escalada, pelo menos até maio.

Roque Pellizzaro, economista e presidente da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL), faz coro com Oreiro. ¿A inflação do mês nos surpreendeu de forma negativa. Se olharmos o que mais pressionou o IPCA, veremos itens e fatores que a restrição do crédito não afeta. Alimento, transporte e habitação não podem ser atingidos por essas medidas do governo (como encurtamento dos prazos dos financiamentos)¿, observou.

Sem vislumbrar um alívio no bolso, a dona de casa Vânia Lacerda, 39 anos, lamenta a corrosão do seu poder de compra. ¿Está tudo muito caro¿, reclamou. Mãe de duas adolescentes, ela se queixa, em especial, do aumento excessivo das roupas. ¿As meninas querem sempre andar na moda e isso custa caro. Está difícil acompanhar¿, reconheceu. Na última semana, Vânia desembolsou R$ 143 com vestuário. Acostumada a renovar o guarda-roupas três vezes ao ano, a dona de casa vai apertar o cinto. ¿Agora, vou ter de diminuir as compras¿, lamentou.

Situação mais grave vive a estudante Cristiane Romminger, 37 anos. Diagnosticada com deficit de atenção, ela desembolsa quase R$ 800 por mês com o tratamento. ¿Este mês já me avisaram que meu remédio vai subir 6%. O pior é que não posso ficar sem tomar.¿, explicou. Para ajudar no orçamento, ela tenta comprar uma marca mais barata, mais os efeitos colaterais a mudar de ideia. Indignada, Cristiane pensa em mover uma ação contra o Estado para garantir a saúde. ¿Não estou mais dando conta¿, queixou-se.

Carlos Moura/CB/D.A Press Gastos crescentes com aluguel e condomínio pesam no orçamento da designer Marina Tavares

Campeãs dos preços*

Município - Em %

Fortaleza (CE) - 7,88 Curitiba (PR) - 7,75 Brasília (DF) - 7,53 Belo Horizonte (MG) - 6,51 São Paulo (SP) - 6,40 Goiânia (GO) - 6,25 Rio de Janeiro (RJ) - 6,09 Salvador (BA) - 5,68 Belém (PA) - 5,58 Recife (PE) - 5,26 Porto Alegre (RS) - 5,11

* No acumulado de 12 meses

Fonte: IBGE/IPCA