Título: Caem as exportações brasileiras de camarão.
Autor: Angelo Castelo Branco
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/08/2004, Gazeta do Brasil, p. B-18

Pela primeira vez, em seis anos de participação no comércio internacional, as exportações brasileiras de camarão registraram queda de faturamento. A receita das vendas externas recuou de US$ 127,5 milhões para US$ 125,6 milhões, de janeiro a julho de 2004, em relação a igual período do ano passado. O setor - que em 2003 apresentou crescimento de 50% sobre o ano anterior e esperava fechar 2004 com um incremento de 30% - refaz suas projeções. A expectativa, agora, é fechar o exercício pelo menos empatado com a performance de 2003, quando foram embarcadas 58,4 mil toneladas do produto, gerando uma receita de US$ 226 milhões.

O presidente da Associação Brasileira de Criadores de Camarão (ABCC), Itamar Rocha, explica que o desempenho abaixo da expectativa é resultado dos impactos negativos da ação antidumping (movida pelos pescadores americanos) e da falta de investimentos no setor. A previsão da ABCC para este ano era exportar 76 mil toneladas do crustáceo, contabilizando um faturamento de US$ 300 milhões.

Nos sete primeiros meses de 2004, as vendas externas totalizaram 33 mil toneladas, superando em apenas 2,8% o volume de 32,1 mil t registrado em igual intervalo do ano passado. Já a receita apresentou queda de 1,45%.

Mercado americano

Embora a redução das exportações pareça discreta, o momento é de preocupação é com os carnicultores. Tradicionalmente, o primeiro semestre é o melhor período de vendas para o mercado norte-americano. Com a ameaça da ação antidumping, as exportações para o país despencaram 53,2% nos seis primeiros meses do ano, passando de 13,7 mil para 6,4 mil toneladas.

O faturamento também teve uma diminuição retumbante de US$ 70 milhões para US$ 36 milhões no período analisado. "Conseguimos aumentar em 100% nossas exportações para a Ásia, além de redirecionar os embarques para a Europa, mas não podemos desprezar o maior mercado consumidor de camarão do mundo, que são os Estados Unidos", frisa Rocha.

De janeiro a julho de 2004, o mercado europeu ficou com 75,15% das exportações brasileiras do crustáceo, ante 21,91% dos EUA e 2,94% da Ásia. O presidente da ABCC lembra a importância do camarão na balança comercial de pescados do Brasil. "O camarão contribuiu para promover uma inversão na balança comercial do setor, que era deficitária até 2001. Com a evolução das vendas externas do produto, a balança passou a registrar superávit e o camarão passou a ter participação de 55% nas exportações nacionais de pescados.

Defesa do camarão

O presidente da ABCC e empresários do setor participaram de uma série de reuniões e audiências em Brasília para costurar uma estratégia político-diplomática de defesa do camarão nacional. Em reunião na Câmara de Comércio Exterior (Camex), Itamar Rocha entregou ao secretário executivo da instituição, Mário Mugnaini, duas cartas dirigidas ao ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan. Uma delas detalha o andamento da ação antidumping e lamenta a posição protecionista dos americanos, que aceitaram as alegações dos pescadores do país e rejeitaram os argumentos dos advogados brasileiros no pedido de revisão das margens preliminares de dumping.

Mugnaini adiantou que a Camex poderá contribuir em pelo menos duas frentes de ação. A primeira delas é acompanhar a visita que os técnicos do Departamento de Comércio (DOC) dos Estados Unidos vêm fazer às três empresas brasileiras investigadas no proces-so (Cida, Norte Pesca e Netuno). A auditoria começa pela norte-rio-grandense Cida, no próximo dia 30 e se estende para as outras duas no dia 6 de setembro. A outra estratégia é tentar agendar um encontro do ministro Furlan com o subsecretário de comércio dos EUA, Donald Evans, na tentativa de convencer o a carcinicultura é uma atividade socialmente importante para o Brasil e que o País vem sendo penalizado no processo, com uma margem de dumping (23,66%) acima da instituída para os demais países acusados na ação (com exceção da China).

Ação articulada

Além do encontro na Camex, os carcinicultores também participaram de reuniões na CNA, no Ministério das Relações Exteriores e entregaram cartas ao presidente do Senado, José Sarney, e ao presidente da Câmara, João Paulo Cunha. "Esperamos uma ação articulada do Executivo e do Legislativo para pressionar o governo americanos", ressaltou Rocha.

Nesta quinta-feira os carcinicultores participam de uma audiência com o ministro da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), José Fritsch e têm encontro agendado com o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, John Danilovich.

kicker: Ação antidumping dos EUA prejudica investimentos no setor