Título: Conciliador, Lula exalta o PMDB
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Romoaldo de Souza
Fonte: Gazeta Mercantil, 25/11/2004, Política, p. A-8

Ele evitou ser incisivo, mas deixou claro que respeitará decisão da Convenção Nacional da sigla. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva adotou ontem um discurso conciliador para tentar acalmar os ânimos dos correligionários do PMDB. Em almoço com 64 dos 76 deputados do partido, Lula evitou ser incisivo ou descortês. Expôs a importância da permanência do partido no governo, mas deixou claro que respeitará a decisão da Convenção Nacional peemedebista, marcada para 12 de dezembro, independente qual seja o resultado. Lula não falou de cargos ou novos ministérios, mas disse que o PMDB é fundamental para a governabilidade do País.

Outro ponto de controvérsia entre o Planalto e o partido foi dissolvido ontem. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), afirmou que a emenda da reeleição das Mesas do Congresso está enterrada. Tudo para não melindrar ainda mais os correligionários peemedebistas.

"Eu entendo que o PMDB tenha divergências internas. Ninguém entende mais de divergências do que eu, com a experiência de 13 anos como presidente do PT", disse Lula, de acordo com o relato de um dos presentes.

Discurso conciliador

O presidente garantiu aos peemedebistas que jamais "iria a qualquer reunião de uma sigla para influênciar na desistência do candidato próprio à Presidência". " Seja o partido do tamanho que for, desde o pequeno PSTU até o maior deles, o PMDB", garantiu.

Apesar do tom conciliador, Lula pediu cuidado. Lembrou que não se pode permitir que um projeto político nacional seja prejudicado por problemas locais ou regionais. Citou o caso do Ceará, quando o presidente nacional do PT, José Genoino errou ao não intervir no diretório regional de Fortaleza, permitindo a candidatura da rebelde Luizianne Lins, que eleita prefeita, e criando atritos com o PCdoB do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo. "Por todo o respeito que tenho à idéia da candidatura própria, digo que o PMDB precisa ter consciência que, ao tomar uma decisão desta envergadura, pode acontecer de problemas locais inviabilizarem uma decisão nacional", declarou.

Lula agradeceu o apoio do partido nas votações do Congresso. Coube ao líder na Câmara, José Borba (PMDB-PR), mostrar que dos 77 projetos considerados importantes pelo governo nos últimos dois anos, o partido aprovou 75. Lula citou, contudo, algumas pendências que espera ver resolvidas, como as votações das reformas tributária, da Previdência, Lei de Falências e Parceria-Público-Privadas (PPP).

Em sua fala de pouco mais de meia hora, o presidente lembrou a capilaridade do PMDB. Rebateu as avaliações de que só existem dois partidos no país - PSDB e PT-lembrando que tucanos e petistas receberam apenas 1/3 dos votos. Reforçou a tese da aliança com o PMDB, lembrando que os dois partidos estiveram juntos em 954 municípios durante as eleições municipais. " Esses números demonstram que estamos mais próximos do que parece. Nossa base está muito mais próxima entre si que nós, da cúpula", acrescentou.

Emenda da reeleição

Num clima de limpar o campo de divergências, o deputado Professor Luizinho exorcizou mais um fantasma que assombra o PMDB: a emenda da reeleição para as Mesas Diretoras. O senador Renan Calheiros (AL) lidera a trupe contra a emenda. O petista disse que a idéia era uma iniciativa dos líderes, em homenagem ao excelente trabalho feito pelo deputado João Paulo Cunha (PT-SP) como presidente da Casa. Mas garantiu que o assunto está superado. "Se preciso for, farei essa manifestação pública no colégio de líderes. Não vamos criar problemas com esta questão", disse Luizinho.