Título: Brasília renova sua festa cultural
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 27/08/2004, Fim de Semana, p. 03

A Feira do Livro de Brasília, segunda mais antiga do País, depois da de Porto Alegre, ganhou novo fôlego em sua 23 edição. Proprietários de pequenas livrarias da cidade se aliaram à Câmara do Livro do Distrito Federal para dar mais corpo ao evento, que começa hoje. E surpreenderam os brasilienses ao garantirem a presença de "pesos-pesados" da literatura. A começar pela homenageada, a escritora gaúcha Lygia Bojunga, agraciada, este ano, com o prêmio Astrid Lindgren Memorial Award (pelo conjunto de sua obra), criado pelo governo da Suécia para autores de literatura para crianças e jovens.

O rol de convidados inclui ainda nomes como Adriana Lisboa, Ana Miranda, Ruy Castro, Isaías Pessotti, Raimundo Carrero, Martha Medeiros, Heloísa Seixas, João Gilberto Noll e Alberto Dines, entre outros. Ao todo, são 31 escritores de diversos estados e 31 autores de Brasília. O esforço por dar maior visibilidade e qualidade à feira mostra que tem sangue novo na praça e que esta promete ser um dos eventos mais quentes dos últimos anos.

Os números são bem expressivos. O evento irá ocupar uma área de 3 mil metros quadrados do shopping Pátio Brasil, com 139 estandes e 11 balcões. Serão 86 expositores, oito editoras, 54 livrarias e duas revistas. "Nossa expectativa é superar o recorde de visitas de 2003, quando a feira recebeu 245 mil pessoas", afirma Lourenço Flores, proprietário da livraria Esquina da Palavra e um dos organizadores. O orçamento para este ano é de R$ 700 mil.

Além dos aspectos culturais e comerciais, a edição deste ano terá um forte cunho social, segundo informa a presidente da Câmara do Livro do DF, Íris Borges. Uma campanha de arrecadação já conseguiu angariar três toneladas de livros que, com a ajuda de voluntários, foram selecionados e classificados e agora seguem para entidades carentes, hospitais e presídios. Foi lançado também o projeto chamado "Ler é Legal", que conseguiu uma verba de R$ 308 mil da Secretaria de Educação do DF. O dinheiro será entregue a escolas de ensino fundamental e médio e deve ser usado na compra de livros para as bibliotecas. Os títulos serão indicados pelos alunos. "Nossa preocupação é com a formação de novos leitores", diz Íris. No ano passado, 22 mil crianças visitaram os estandes.

Nesta linha, a Caixa Econômica Federal contribuiu com R$ 42 mil para patrocinar a "moedinha do saber", que irá circular na versão de R$ 7 e beneficiará 4,9 mil alunos jovens e adultos, incluindo os oriundos de escolas profissionalizantes. Uma pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL), realizada em 2001, mostrou que, de cada dez brasilienses, sete têm a leitura como hábito - o maior índice entre 46 cidades pesquisadas.

A intimidade com as letras está diretamente relacionada ao alto poder aquisitivo e à escolaridade dos moradores do Plano Piloto, já que o levantamento foi feito a partir do número de exemplares vendidos. Mas ficaram fora da pesquisa uma legião de leitores espalhados pelo DF, com menor renda per capita e escolaridade. Gente sem dinheiro para comprar livros e sem biblioteca pública perto de casa. "São estes que queremos trazer também para a feira", completa Íris.

A vice-presidente da Câmara do Livro do DF e proprietária da Letras e Cia, Ellen Sampaio, adianta que o evento terá ainda uma série de atrativos paralelos. Na "Esquina I ¿ Das idéias", local com capacidade para 150 pessoas, serão ministradas oficinas de leitura, escrita, interpretação e até gravuras. Já na "Esquina II ¿ Do Imaginário", com capacidade para 100 lugares, terão palestras para adultos, professores e encontros com autores do cacife de Eva Furnari, Lucília Garcês e Jô Oliveira. "Além disso, a feira terá um Café Literário, dedicado às conversas informais, e uma Arena Cultural, para abrir mais espaço aos escritores locais", diz. Estão previstos ainda dois seminários, um dedicado a professores e outro a estudantes universitários.