Título: Atrasa o plantio da soja na Bahia
Autor: Lucia Kassai e Franci Monteles
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2004, Primeira Página, p. A1

Apesar da demora dos trabalhos, preços ainda são maior preocupação entre os produtores. Com quase vinte dias de atraso, a sojicultora Isabel Cunha, de Luiz Eduardo Magalhães, no oeste da Bahia, finalmente deu a ordem para que as plantadeiras entrassem em campo para dar início ao plantio da safra de soja. O plantio está atrasado em razão do atraso das chuvas, que só começaram a cair no final da semana passada. "É claro que estou preocupada com o plantio, mas ultimamente minha maior fonte de apreensão são os preços da soja", diz a agricultora.

Na safra 2003/04, os preços no oeste da Bahia chegaram a US$ 16,50 a saca. Para 2004/05, ela prevê que o grão recue e volte para a média histórica, entre US$ 10 e US$ 12. Hoje, a saca está cotada na região a US$ 9,60. "Infelizmente, todo produtor tem que plantar para pagar os financiamentos que contraiu na compra de máquinas agrícolas", diz. Por conta dos financiamentos de longo prazo, a maioria dos agricultores de Luiz Eduardo Magalhães terá que plantar soja pelos próximos seis anos.

Desde meados de maio, quando foi feito o anúncio da supersafra americana de 85,7 milhões de toneladas, as cotações da soja recuaram 46% na bolsa de Chicago, referencial de preços para o Brasil.

Essa retração já está se refletindo nas exportações brasileiras. Embora o País deva colher em 2004/05 uma safra 20% maior que a anterior, a receita com exportações promete ser menor. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), o complexo soja deve gerar receitas recordes de US$ 10,1 bilhões neste ano, mas para 2005 elas devem cair 7,5%, para US$ 9,3 bilhões. A entidade prevê uma queda de 20% do preço médio da soja, de 22% das cotações do farelo e de 9% do óleo. O complexo soja, principal item da pauta de exportações, responde, sozinho, por cerca de 11% das vendas externas brasileiras.

"A medida recentemente anunciada pelo governo, de sustentação dos preços do dólar, vai beneficiar imensamente os produtores de soja no médio e longo prazo", diz um analista. "Foi uma ação sob medida para a agricultura", afirma. Ele diz que, com o quadro de grande oferta mundial de soja, somente o câmbio pode dar sustentação às exportações da oleaginosa e garantir para o governo mais um recorde na sua balança comercial.

Trabalhos atrasados

Embora o plantio da safra de verão esteja em média dentro da normalidade, os trabalhos estão atrasados em alguns estados, como Bahia, Maranhão e Minas Gerais. Estima-se que 64% da safra tenha sido plantada, pouco atrás da média histórica de 69%, informa a Safras & Mercado.

A Bahia é o estado mais atrasado. De acordo com a consultoria, apenas 7% da área foi plantada até a semana passada, enquanto em igual período do ano passado a média era de 47%. "O atraso é sempre preocupante, mas ainda há tempo para os produtores recuperarem o tempo perdido", diz Odnéia Santos, da Safras.

"Estamos atrasados, mas creio que conseguiremos acelerar os trabalhos e terminar no máximo até 10 de dezembro, sem prejuízo da produtividade", diz a produtora Isabel Cunha.

De acordo com a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aíba), parte dos poucos produtores terá que replantar áreas de soja em função do atraso das chuvas. "Alguns arriscaram plantar no seco e creio que 5% dessa área terá que ser replantada", diz Ivanir Maia, assessor de agronegócios da entidade.

Em todo o oeste da Bahia, serão plantados de 870 mil a 900 mil hectares de soja, área quase 8% maior que a semeada na safra passada, informa a Aíba.