Título: Os bons lucros dos 300 maiores grupos
Autor: Jaime Matos
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/08/2004, Nacional, p. A-5
A revista da Gazeta Mercantil começa a circular hoje e faz o retrato de um universo de 10 mil empresas. Desde que passou a primeira onda de impacto do Plano Real nos negócios brasileiros, ampliando os lucros das empresas, esses nunca estiveram tão atrativos como em 2003. É o que mostram os balanços dos 300 maiores grupos instalados no Brasil, listados pelo Centro de Informações da Gazeta Mercantil para a revista "Balanço Anual¿, que começa a circular hoje em âmbito nacional e será distribuída para os leitores da Gazeta Mercantil nos próximos dias.
O patrimônio líquido dos 300 grupos totalizou R$ 495 bilhões; as receitas líquidas, R$ 824,2 bilhões; e os lucros líquidos, R$ 66,7 bilhões. Embora com crescimento relativamente modesto das receitas, de 5,14% na comparação com 2002, os lucros deram um salto olímpico de nada menos que 103,01%. No exercício anterior a situação era inversa: registrava-se expansão de 45,57% nas receitas para um prejuízo de 20,32%. A mesma situação de 2001, quando também houve prejuízo (de 4,7%) frente a um aumento de receita líquida (de 6,51%).
O crescimento do patrimônio das corporações, por sua vez, dobrou, passando de 5,18%, em 2002, para 11,03%, em 2003 (em 2001 caíra). A rentabilidade do patrimônio subiu dos 7,5% de 2002 para 11,2% e o endividamento geral ficou estável em 54,5% ante 54% do ano anterior.
A permanência do câmbio em patamar civilizado durante 2003 fez a diferença. Pois tal situação aliviou os grupos endividados em moeda forte, com o que recuperaram patrimônio, via redução do endividamento e transformação das diferenças em lucros contábeis. No ano anterior, as empresas enfrentaram ambiente diverso (e adverso) da valorização de 52,3% do dólar frente ao real.
Grupos do setor exportador, especialmente do agronegócio, também ajudaram a boa performance. O crescimento das vendas externas para US$ 73 bilhões, ou 21,08% acima de 2002, foi o salto mais expressivo desde 1988 e rendeu o saldo recordista de US$ 24,8 bilhões. Os bons preços internacionais e as crescentes compras da China foram os principais protagonistas do sucesso. Mas teve seu valor a melhora do desempenho dos exportadores brasileiros e do apoio do serviço de promoção comercial do governo, já que parte do crescimento das vendas veio de mercados novos.
Com tais ajudas, o ranking dos 300 maiores grupos aponta o menor número de prejuízos dos últimos quatro anos. Foram 43 casos, ante 93 em 2002 e 66, tanto em 2001 quanto no ano anterior, em 2000.
Na classificação dos grupos, entre os 20 primeiros colocados, houve, como habitualmente, pouca movimentação. Além de troca de lugares, ocorreram apenas duas alterações de maior vulto: a Embratel saiu desse pelotão, baixando para o 22 lugar; e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST) galgou dez posições, saindo de 29 colocada em 2002 para o 19 posto no ano passado.
A Eletrobrás lidera o ranking, por ter o maior patrimônio líquido, de R$ 68,1 bilhões, mas é a segunda colocada, a Petrobras, quem ganha nas demais rubricas: em receitas de R$ 95,7 bilhões (38,4% acima de 2002) e em lucros de R$ 17,8 bilhões (119,7% maiores que os do ano anterior).
O setor financeiro aparece no ranking com 39 conglomerados (eram 35 em 2002). O patrimônio líquido deles representa 20,83% do conjunto, praticamente os mesmos 20,22% do ano anterior. Na coluna da receita líquida, no entanto, houve, um retrocesso: 25,96% do total, ante 35,5% em 2002. Quanto ao lucro líquido, houve queda maior, demonstrando a recuperação da rentabilidade dos setores ligados à produção. Em 2003, o setor financeiro ficou com 23,96% da soma dos lucros dos 300 grupos; em 2002, ficara com 50,23%.
Por origem de capital, os conglomerados nacionais permanecem com a participação mais importante: em patrimônio, 47%, o mesmo do ranking anterior; os estatais detêm 32% e os estrangeiros, 21%. Na divisão das receitas, os nacionais têm 51% (48% em 2002), os estrangeiros, 26% (28% no ano anterior) e os estatais, 23% (24%). Finalmente, no lucro líquido, os nacionais ficaram com 51% (61% em 2002); os estatais com 36% (29% no ano anterior); e os estrangeiros com 13% (10%).