Título: Previsão é de novo aumento da Selic
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 26/11/2004, Finanças e MErcados, p. B2
Analistas vêem otimismo do BC, mas mantêm previsão de continuidade no aperto monetário. A continuidade do processo de aperto na política monetária, iniciado em setembro e que em três altas sucessivas da Selic elevou a taxa para 17,25% ao ano, foi a principal mensagem da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Embora o documento sinalize um novo aumento da Selic em dezembro - projetada em 0,5 ponto percentual - analistas entendem que o Banco Central está menos pessimista. Citam como pontos positivos da ata a queda no preço do petróleo e a apreciação do real. Os negativos, e que justificariam uma nova elevação nos juros, são o esgotamento da capacidade ociosa do setor industrial e as projeções do mercado para inflação de 2005 acima da meta fixada, de 5,1%.
Na avaliação do BC, desde que foi iniciado o processo de alta de juros, houve alguns choques positivos na economia. "Fatores que na ata anterior foram usados para justificar o aumento dos juros, desta vez aparecem no documento como uma boa notícia", diz Vladimir Caramaschi, economista-chefe da corretora Fator. "Pela ata, o BC demonstra menos preocupação com a possibilidade de o petróleo se tornar um problema grave." O documento destaca que o preço internacional do petróleo caiu para patamares próximos a US$ 49, após atingir US$ 55,67 em outubro. Outro fator que, na visão do BC, reduz a pressão inflacionária, é o câmbio. A apreciação do real frente ao dólar é citada na ata como importante no controle dos preços.
Para justificar a última elevação da Selic e, de certa forma, preparar o terreno para um novo aumento, o BC reafirma a preocupação com o ritmo da economia. O BC avalia, por exemplo, que a economia brasileira registrou "alguma" desaceleração nos últimos meses, mas lembra que esse crescimento menor ainda não foi suficiente para reverter as expectativas de inflação acima do centro da meta de 2005.
O documento cita que a utilização média da capacidade instalada na indústria subiu para 86,1% em outubro, atingindo níveis sem precedentes. O receio é de que o setor produtivo não consiga aumentar a oferta de bens na mesma velocidade do crescimento da demanda, o que pressionaria os preços. Preocupação considerada acertada pela economista-chefe do banco UBS, Victoria Werneck.
"O Banco Central deixou claro sua determinação em garantir o crescimento sustentável, iniciado em 2003", diz Victoria. "Se você não garantir que a renda do trabalhador permaneça estável ou aumente, impedindo que a inflação corroa os ganhos, o crescimento atual do País pode se tornar apenas uma bolha e não se sustentar com o tempo." Outro ponto em destaque na avaliação da economista diz respeito às projeções do próprio BC para 2005. "Embora não divulgue os números, a ata diz que as projeções feitas pelo BC mostram uma queda na expectativa de inflação para o ano que vem, embora ainda acima da meta de 5,1%", diz Victoria.
Se o BC está mais otimista quanto à possibilidade de cumprimento da meta de inflação em 2005, o pessimismo do mercado financeiro continua tendo peso decisivo na condução da política monetária. "As projeções do mercado ainda são altas, o que indica a necessidade de continuidade do aperto monetário", justifica Alexandre Lintz, economista-chefe do banco BNP Paribas.
No entanto, as projeções podem iniciar uma trajetória de queda por conta do decisão da Petrobras de reajustar agora a gasolina em 7%, e o diesel em 10%. O reajuste tranqüilizou o mercado. "A decisão de elevar os preços já tirou um fator de incerteza quanto a 2005 e é provável que as projeções de inflação comecem a recuar", acredita Victoria, do UBS.
Vladimir Caramaschi, do Fator, concorda. "Foi positiva a decisão de elevar os preços agora, evitando contaminar muito a inflação em 2005", diz. Sobre a possibilidade de que a decisão do Tesouro de comprar US$ 2,9 bilhões no mercado, injetando reais na economia, afete a inflação, Caramaschi considerou improvável. "O BC utiliza instrumentos para manter o juro em um determinado patamar, controlando a moeda em circulação via venda de títulos públicos", explica. "Esse controle de liquidez funciona em situações como esta e impede excesso de moeda em circulação."