Título: Brasília e cidades vizinhas unidas para atrair visitantes
Autor: Branco, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 09/04/2011, Cidades, p. 44

TURISMO

Brasília, Goiânia, Pirenópolis, Alto Paraíso e Caldas Novas vão unir-se para oferecer roteiros turísticos integrados. A intenção é aumentar o potencial de atração de visitantes de cada local, e captar a atenção dos estrangeiros que virão ao Brasil para a Copa do Mundo de 2014. A parceria foi anunciada pelas secretarias de Turismo do Distrito Federal, Estadual de Goiás e Municipal de Goiânia. No próximo dia 28, será realizada a primeira reunião de trabalho do projeto, no município goiano de Pirenópolis, com previsão de assinatura de um termo de cooperação técnica.

A junção de forças está de acordo com política do Ministério do Turismo (MTur). O órgão orienta áreas de atração de visitantes geograficamente próximas a oferecerem produtos em conjunto. As cinco cidades participantes do DF e de Goiás integram lista do MTur das 65 cidades indutoras de desenvolvimento turístico no Brasil.

De acordo com o secretário de Turismo do DF, Otávio Neves, os primeiros entendimentos acerca do projeto ocorreram durante uma visita de cortesia de integrantes da pasta do Distrito Federal a colegas da área análoga na capital goiana, na última semana. ¿Demos a ideia, e eles prontamente compraram¿, afirma Neves. O secretário diz que, como a proposta ainda está ganhando contornos, não há definição de valores a serem investidos. Ele informou que representantes do setor privado serão chamados para participar apenas em um segundo momento, quando os principais pacotes turísticos estiverem definidos.

Potencialidades Embora o trabalho de montar pacotes envolvendo as cidades esteja começando, o Governo do DF está especialmente animado com um possível roteiro arquitetônico envolvendo Brasília, Goiânia e Pirenópolis. Segundo Otávio Neves, a Secretaria de Turismo do DF solicitou a formação de um grupo de estudo com membros do Instituto de Arquitetura do Brasil (IAB) para avaliar o potencial da ideia e como ela pode ser desenvolvida de forma a tornar o passeio atrativo para arquitetos, urbanistas e estudantes do Brasil e de outros países.

¿Brasília tem a arquitetura moderna, contemporânea, com seus monumentos a céu aberto. Goiânia tem uma presença muito forte do estilo art déco (veja Quadro). Pirenópolis, por sua vez, tem casas e edifícios do período colonial¿, destaca o secretário Otávio Neves.

O entusiasmo pelo futuro roteiro é compartilhado pelo secretário Municipal de Turismo de Goiânia, Sebastião Augusto Barbosa Neto. ¿Brasília e Goiânia são as portas de entrada para o turismo no Centro-Oeste. Com os atrativos das duas cidades e a integração de Pirenópolis, o pacote pode ser um dos mais bem-sucedidos¿, acredita. Ele frisa que outras programações a serem exploradas podem incluir rotas históricas, ecológicas, gastronômicas, entre outras.

¿Nós vamos definir os produtos, e depois, começamos a interlocução com o setor privado, segundo o perfil de cada um. Haverá vantagens como o rateio de despesas, promoções conjuntas dos empresários. Vale lembrar que projetos do tipo já acontecem. O que vai ocorrer é que serão institucionalizados, terão mais apoio¿, afirma.

Continuidade O secretário Estadual de Turismo de Goiás e presidente da agência de fomento Goiás Turismo, Aparecido Sparapani, afirma que, no âmbito da ação integrada entre o DF e o estado vizinho, estarão incluídos projetos de capacitação de mão de obra. ¿A gente vai identificar quais os profissionais da hotelaria, comércio e táxi que precisam ser capacitados¿, declarou.

Yoshihiro Karashima, diretor de Relacionamento com o Mercado da Associação Brasileira das Agências de Viagem no Distrito Federal (Abav-DF), considera interessante a parceria entre GDF e o Governo de Goiás. Ele chama a atenção, entretanto, para a necessidade de apoiar os pacotes e roteiros oferecidos atualmente por agências e operadoras de turismo.

¿Existem produtos integrando Brasília, Chapada dos Veadeiros, Pirenópolis. Foram formatados pelo setor privado e divulgados na Europa e nos Estados Unidos. Para viabilizá-los, fizemos acordos com empresários parceiros nas cidades goianas. No entanto, muitas vezes, a procura não é grande por falta de ações do governo, que poderia nos auxiliar na divulgação. Acho que essa iniciativa das secretarias de Turismo é importante, mas deve dar continuidade aos projetos existentes. Não adianta nada recomeçar do zero¿, avalia.

Segundo Karashima, o apoio governamental ao setor permitiria a realização mais frequente de ações como o road show ¿ nome técnico dado às viagens para apresentação de destinos ¿ e a organização de tours para a mídia e empresários.

De acordo com ele, o momento atual não tem sido favorável à vinda de estrangeiros para o Brasil, porque a depreciação do dólar encareceu as viagens. As belezas do cerrado têm sido mais visitadas por brasileiros. Karashima afirma que grandes operadoras, como a CVC Turismo e a Tam Viagens, trazem um público constante de moradores de outras unidades da Federação para o DF e Goiás. ¿Não é uma procura maciça como para Fortaleza e outras cidades que têm praia, mas existe. Nosso esforço é fazer com que os turistas passem pelo menos dois dias em Brasília antes de seguir para as cidades ecoturísticas¿, conta.

PARA SABER MAIS A capital é a vedete

Segura, com infraestrutura satisfatória, acessos viários fáceis e um aeroporto estratégico, que é o segundo do país em número de conexões. Este é o perfil que torna Brasília referência no chamado turismo de eventos. No ano passado, a capital tornou a confirmar-se como vedete desse filão, figurarando entre as 10 cidades brasileiras que mais recebem encontros internacionais, segundo a disputada lista da Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur). Seminários, congressos e simpósios de grande porte costumam custar de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões para serem organizados. No entanto, a economia das cidades em que acontecem sempre é beneficiada. Turistas estrangeiros dispendem, em média, US$ 400 por dia.

Destinos

Confira os atrativos das cidades do DF e Goiás que vão se unir para potencializar a exploração do turismo

Brasília A capital do país, inaugurada em abril de 1960, pelo então presidente da República Juscelino Kubitschek, atrai a curiosidade do mundo todo, em razão de sua arquitetura singular. O plano urbanístico da cidade foi elaborado pelo arquiteto e urbanista Lúcio Costa, e as construções mais famosas foram projetadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer. Além do visual, que levou Brasília a ser tombada pela Unesco como Patrimônio da Humanidade, outro chamariz é o turismo cívico. Câmara e Senado promovem tours sobre seu funcionamento. Mais recentemente, foi descoberto o potencial da cidade para captar eventos.

Caldas Novas O município goiano, situado a 297 quilômetros de Brasília, é a maior estância hidrotermal do mundo. Suas águas brotam do chão a temperaturas de 20° a 60°. Próxima a Caldas Novas, está a cidadezinha de Rio Quente, com pouco mais de 2 mil habitantes. Tanto em Caldas quanto na cidade menor, hotéis, clubes e pousadas exploram as águas térmicas com o fim de atrair turistas. A principal atividade econômica da região é o turismo. Uma outra grande atração de Caldas Novas é o ecoturismo, vez que a cidade encontra-se às margens do lago da represa de Corumbá e ao lado da Serra de Caldas.

Pirenópolis É um município histórico, um dos primeiros do estado de Goiás. Tombada como conjunto arquitetônico, urbanístico, paisagístico e histórico pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1989, a cidade tem um centro histórico com casarões e igrejas do século XVIII. Nas suas proximidades, há ainda centenas de cachoeiras, que agradam os ecoturistas e amantes da natureza. A cidade possui boa estrutura de hotéis, restaurantes e pousadas.

Alto Paraíso A 230 quilômetros de Brasília e 412 quilômetros de Goiânia, a cidade está encravada na região do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Localizada a 1,3 mil metros de altitude, é uma das mais altas do estado de Goiás, com temperaturas baixas à noite e nas madrugadas. As belezas naturais da Chapada, cheia de cachoeiras, paredões, canyons e espécies raras de animais e plantas atraem os apreciadores do turismo ecológico e de aventura. Alto Paraíso é considerada santuário do misticismo, esoterismo. É atravessada pelo paralelo 14, da mesma forma que Machu Pichu, no Peru. Moradores e visitantes contam histórias sobre discos voadores e seres extraterrestres na região.

Goiânia Eventos como as feiras da Lua e Hippie, e a vida noturna agitada da cidade, que possui cerca de 1,3 milhão de habitantes, são marcas registradas. Além disso, a capital de Goiás possui o segundo maior acervo arquitetônico de art déco do mundo, só perdendo para Miami, nos Estados Unidos. A principal característica desse tipo de arquitetura é a exploração de formas geométricas, com fachadas em destaque, vitrais, ornamentos e muretas na cobertura das edificações. Museus de arte, parques e áreas verdes também distinguem Goiânia. Em sua região metropolitana, Trindade, onde está situada a Basílica do Divino Pai Eterno, é um centro de turismo religioso.