Título: Finalmente, a retomada dos negócios
Autor: Marcos Lopes Padilha/ Panorama Setorial
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/08/2004, Eletroportáteis, p. A-8

Aumentam as exportações e os investimentos voltam ao País. Após três anos de retração, o mercado de eletroportáteis vive um período de reaquecimento dos negócios. Entre os indicadores que apontam esse movimento, está a alta de 12,14% nas vendas industriais, no primeiro trimestre de 2004, em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com informações da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros).

Antes disso, entretanto, os produtores já vinham colhendo bons resultados nas exportações, que dobraram em 2003 em relação ao ano anterior. O otimismo também é revelado pela decisão dos fabricantes de retomarem os investimentos, tanto na ampliação da produção como na divulgação dos lançamentos.

A retomada tem como pano de fundo o declínio dos negócios nos últimos três anos. As vendas industriais de eletroportáteis fecharam 2003 com 10,85 milhões de unidades, 5,83% menos que no ano anterior. Entre 2001 e 2003, as vendas caíram 21,94%. Com isso, a participação desse segmento no total das vendas de eletrodomésticos ficou em 37,03%, após ter atingido o pico de 45,7%, em 1999.

De acordo com o diretor comercial e de marketing da fabricante baiana Mondial, Giovanni Cardoso, pesquisas feitas pela empresa mostraram que, no mercado interno, somente quatro linhas de produtos - liquidificadores, ventiladores, batedeiras e espremedores - são responsáveis por 53% do volume total de eletroportáteis comercializados no País e por 59% das vendas em valor. O ferro de passar, segundo Cardoso, responde sozinho por 36% das vendas de portáteis.

Estas avaliações parecem consistentes com os dados divulgados em 2000 pela Eletros. Naquele ano, foram vendidos 6,4 milhões de ferros de passar, o equivalente a 46,2% do total de portáteis comercializados. Também expressiva era a participação de liquidificadores (3,9 milhões de unidades, 28,2% do total) e de batedeiras (1 milhão de peças), embora a Eletros não computasse as vendas de ventiladores. No entanto, ainda segundo Cardoso, o número de aparelhos vendidos, no segmento de ventiladores domésticos em todo o País, deve ter chegado a 4 milhões, em 2003, sem contabilizar os ventiladores de teto.

Esperança com as exportações

Muitas empresas do setor têm procurado nas exportações a saída para a estagnação do mercado interno. Com efeito, a balança comercial do segmento fechou com superávit de US$ 15 milhões, mais que dobrando o resultado do ano anterior. Este patamar é bem modesto em comparação com os aparelhos da linha branca e de imagem e som. O resultado foi puxado pelas exportações, que apresentaram evolução favorável, da ordem de 40%, enquanto as importações mantiveram o patamar de US$ 25 milhões.

Em 2002, o segmento tinha registrado superávit de US$ 7 milhões, modesto mas o maior dos últimos anos. Mesmo assim, confirmou a tendência superavitária dos últimos anos, após o último déficit registrado em 1998, de US$ 54,2 milhões.

Vale ressaltar que os superávits comerciais não têm sido obtidos por meio de um eventual aumento das exportações, que nos últimos anos se mantêm na casa dos US$ 30 milhões. Foram as importações que diminuíram, do pico de US$ 88,1 milhões, em 1998, para US$ 22,7 milhões em 2002, uma retração superior a 74% no período.

Como nas demais linhas de eletrodomésticos, há forte presença de subsidiárias de empresas multinacionais, que, em geral, oferecem linhas bastante diversificadas de aparelhos. No entanto, nesse segmento há uma grande participação dos fabricantes nacionais.

Como conseqüência, a disputa pelo mercado interno está recrudescendo. Estão, frente a frente, as subsidiárias de multinacionais e os fabricantes nacionais. A Arno, por exemplo, comprada pelo grupo francês SEB, integrou-se à estratégia globalizante da matriz e suas exportações cresceram 25%, em 2003, em relação ao ano anterior, somando R$ 40 milhões. O incremento resultou da retomada do mercado sul-americano e da valorização do euro. Outra conseqüência foi a aceleração nos lançamentos de novos produtos. A empresa tem um portfólio com aproximadamente 80 aparelhos, dos quais 20% são renovados anualmente.

Na Walita, divisão de eletroportáteis da Philips, a expectativa de incremento é de 15%, somente em 2004, em comparação ao ano anterior. O objetivo é dar continuidade ao crescimento observado nos anos anteriores, o que inclui as exportações, uma vez que a subsidiária é responsável por atender o mercado latino-americano de eletrodomésticos portáteis da Philips. No começo de 2004, a empresa estava investindo cerca de R$ 20 milhões no novo posicionamento da marca, focando sua estratégia no ato de "compartilhar" tarefas do dia-a-dia do consumidor atual.

Fabricante volta ao segmento

A sueca Electrolux decidiu investir no reforço de sua posição no mercado brasileiro, sobretudo nos aparelhos da linha cozinha (liquidificadores, batedeiras e cafeteiras), marginalizada desde 1999 e boa parte da qual com produção terceirizada por fabricantes nacionais. Já em 2003, a companhia destinou R$ 7 milhões para o lançamento de nove produtos no segmento de eletroportáteis, 40% mais que no ano anterior.

Os produtos são novos modelos de liquidificadores, aspiradores de pó domésticos e industriais, enceradeiras e lavadoras de alta pressão para limpeza de áreas externas. Entre os destaques da Electrolux está o robô aspirador de pó denominado "Trilobite". Também foi reforçada a presença no mercado de cafeteiras, cujo market share saltou de 1%, em 2002, para mais de 10%, em apenas um ano.

Entre os fabricantes nacionais, merece destaque a paranaense Britânia, que registrou receita líquida de R$ 154,9 milhões em 2002, com crescimento real de 37,6%, e um lucro líquido de R$ 14,6 milhões, de acordo com informações da revista Balanço Anual da Gazeta Mercantil. Após a crise de energia, de 2001, que golpeou pesadamente suas vendas, a empresa optou por colocar em prática um ousado plano de diversificação. Inicialmente, expandiu-se para as linhas de aspiradores de pó, lava-louças e secadoras de roupa.

A iniciativa mais ousada da empresa foi a entrada, há dois anos, no segmento de aparelhos de som. Inicialmente, lançou no mercado modelos importados, mas a direção da companhia não descartou a instalação de uma fábrica no País.

Outra fabricante brasileira de eletroportáteis, a Mondial, registrou faturamento de R$ 61 milhões, em 2003, com crescimento de 49% sobre o ano anterior. A produção alcançou 2,2 milhões de unidades, aos quais devem ser somados 220 mil aparelhos importados.

Em setembro de 2002, a Mondial inaugurou uma fábrica em Camaçari (BA), com investimento de R$ 10 milhões e capacidade para produzir 3,5 milhões de aparelhos por ano. Além disso, investiu aproximadamente R$ 4 milhões na instalação de uma nova linha robotizada para a produção de liquidificadores e batedeiras, e em uma ferramentaria própria para fazer os moldes antes comprados de terceiros.