Título: Oportunidades na economia
Autor: Marcilio R. Machado
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/11/2004, Opinião, p. A3

Entre países mais ricos o menor PIB (Canadá) é quase o dobro do brasileiro. Com o crescimento projetado das exportações de aproximadamente 29% em relação ao ano anterior, finalmente poderemos chegar, ao final de 2004, perto da marca de US$ 94 bilhões. Ao se concretizar esse crescimento estaremos, provavelmente, entre os cinco maiores países do mundo em relação ao aumento das vendas externas neste ano. Embora, com esse volume, estejamos dando um grande passo, isso ainda não é o suficiente. Em meados do século passado, as nossas exportações eram maiores do que as de países como o Japão e a China. Atualmente, as exportações tanto da China como do Japão estão próximas de US$ 500 bilhões anuais. Mesmo assim, estudo realizado pelo banco de investimento Goldman Sachs prevê que o Brasil, dentro de dez e vinte anos, juntamente com a China, a Índia e a Rússia, poderá se colocar entre as sete maiores economias do mundo. No momento em que o Brasil pleiteia um lugar permanente no Conselho de Segurança da Organização da Nações Unidas (ONU), será que conseguiremos fazer parte dos países mais ricos do mundo? Será que as nossas expectativas serão atingidas? Mesmo otimistas, vale aqui uma reflexão sobre o ranking Brasil.

No clube dos sete países mais ricos do mundo, o mais baixo consumo de energia elétrica é o da Itália, com 4.813Kw per capita, enquanto o do Brasil é apenas 1.729Kw. No clube dos países mais ricos do mundo o Produto Interno Bruto (PIB) mais baixo é o do Canadá, cujo valor é de aproximadamente US$ 835 bilhões, quase o dobro do PIB brasileiro. No clube dos países mais ricos do mundo, o que possui o menor percentual de estradas pavimentadas são os Estados Unidos, com 59% do total das estradas do país, enquanto no Brasil apenas 6% do total das estradas possuem pavimentação. No clube dos países mais ricos do mundo, o que tem o menor número de computadores pessoais é a Itália, com 231 computadores para cada 1.000 habitantes, enquanto no Brasil esse número é 75. No clube dos países ricos, a média de investimento direto externo foi de cerca de US$ 28 bilhões em 2002, enquanto no Brasil esse investimento atingiu US$ 16 bilhões.

A cada ciclo econômico algumas janelas de oportunidade se abrem para que países e empresas se situem de maneira estrategicamente vantajosa. O Japão soube ocupar seu espaço no século XX. A China tem se posicionado como o grande centro industrial no mundo globalizado neste início de século XXI, enquanto a Índia se tornou o grande celeiro de cérebros de tecnologia de informação. Estes dois últimos países tiveram o crescimento econômico diretamente relacionado ao aumento de suas exportações. O Brasil, por outro lado, tem-se preocupado em se tornar um líder global na exportação de commodities e na construção de uma plataforma industrial em indústrias como a automobilística, a aeronáutica e a eletrônica. Entretanto, nessa nossa busca por uma melhor inserção na economia global, é importante conhecer a distância que nos separa dos países mais desenvolvidos para nos conscientizarmos do trabalho e das ações que ainda precisam ser realizados. Embora os resultados das pesquisas indiquem que temos grande chance de avançar para o clube dos mais ricos do mundo, diferentemente do que aconteceu no século passado, as janelas de oportunidades que se abrem hoje se fecham muito mais rapidamente do que no passado. O desafio, portanto, é sabermos explorar as oportunidades que surgem através da elaboração de planos e ações para atrairmos maiores investimentos externos e ao mesmo tempo aumentar investimentos em infra-estrutura, energia e tecnologia de informação. Caso contrário, continuaremos a ser apenas o país do futuro.

kicker: O desafio para o Brasilé atrair maiores investimentos externos