Título: Meirelles não vê necessidade de renovar o acordo com o FMI
Autor: Dimalice Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/11/2004, Nacional, p. A4

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse acreditar que o Brasil pode "andar com as próprias pernas", ou seja, sem o auxílio do Fundo Monetário Internacional (FMI). A afirmação foi feita ontem depois de Meirelles ser questionado sobre a possibilidade de o governo brasileiro renovar o acordo com o Fundo. "É possível não se renovar o acordo", disse.

O entendimento em vigor termina oficialmente no início de março. Desde 1998, o país vem firmando sucessivos acordo com a instituição para obter ajuda financeira. Meirelles reiterou que a decisão final sobre o assunto ainda não foi tomada, mas que o acordo pode não precisa ser renovado porque o País está com todos os fundamentos da economia "melhores e sólidos". O presidente do BC disse, também, que as reservas do País, depois dos pagamentos ao FMI, serão relevantes no futuro. Atualmente as reservas líquidas do país, pelo conceito de liquidez internacional, são de U$ 50,113 bilhões e, grande parte deste volume, é dinheiro que tem de voltar para o FMI até 2008. "Isso o Brasil também tem condições de gerir bem porque fez um acordo que permitiu realizar o pagamento em alguns anos." Meirelles conversou com jornalistas após almoço com supermercadistas na sede da Associação Paulista de Supermercados (Apas), em São Paulo.

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, indicou que o aperto monetário vai prosseguir. Segundo ele, o BC não tomará decisões baseadas em dados pontuais. "Mas é uma visão de tendências, vamos aguardar as próximas coletas para ver se ela se mantém", concluiu.

Hoje, pela primeira vez em meses, a expectativa para a inflação de 2005 apresentou recuo na pesquisa de mercado que o BC realiza com instituições financeiras (veja matéria ao lado) Para Meirelles, a desaceleração observada pela pesquisa é um "movimento pontual". "Mas é um movimento na direção correta, uma vez que o BC já anunciou que a meta da inflação é de 5,1%", disse, lembrando que é natural que haja convergência de expectativas.

Para o presidente do Banco Central, o período de estabilidade macroeconômica brasileira ainda é curto para influir positivamente no risco Brasil. "A estabilidade precisa de tempo para se consolidar. Tivemos déficit primário até há pouco tempo e, portanto, fortes mudanças da política econômica",.

De acordo com Meirelles, a estabilidade recente faz com que a percepção da necessidade de retorno dos investimentos seja maior em menor tempo, gerando a idéia de que o Brasil é pouco previsível. "Essa visão é importante, mas o risco se manifesta de diversas maneiras", disse. Outro fator que dificulta a percepção da estabilidade, mencionado por Meirelles, é o passado recente de hiperinflação, que influi na percepção de risco. "Mas ela está melhorando e o risco, de fato, caindo."

Em palestra durante seminário "Reavaliado o Risco-Brasil", promovido pela Standard & Poors, em São Paulo, Meirelles voltou a enfatizar a melhoria em diversos indicadores da economia, como o aumento do superávit primário, a redução da dívida liquida e o bom desempenho da balança comercial. Sobre a desvalorização do dólar, disse que é preciso é deixar os mercados de câmbio flexíveis e eficientes para que o processo se dê uma maneira menos traumática possível", disse Meirelles.