Título: Brasil assina quatro acordos com o Paquistão
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/11/2004, Nacional, p. A5

A possibilidade de expansão do comércio bilateral e a luta contra o terrorismo foram os principais temas dos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da autoridade máxima do Paquistão, Pervez Musharraf. O presidente asiático aproveitou sua passagem por Brasília, ontem, para projetar uma nova imagem da diplomacia do país na América Latina. Segundo Musharraf, embora com uma minoria extremista, o Paquistão é uma nação de islamismo moderado, que está vencendo a guerra contra o terror e estreitando laços com antigos inimigos, como a Índia. Com Irã, China e Afeganistão as relações também sempre foram problemáticas. "Esperamos ter uma convivência pacífica com toda a região daqui para frente", disse. Musharraf solicitou o apoio do Brasil para ajudar a resolver as disputas políticas do mundo.

Durante almoço oferecido ao presidente do Paquistão, no Itamaraty, Lula destacou como positivo o processo de reconciliação do país com a Índia. "O impacto desse gesto para a estabilidade no coração da Ásia e para a segurança internacional tem sido extraordinário", afirmou Lula.O presidente disse ainda que o Brasil acompanha com interesse o empenho de Musharraf em fazer prevalecer no seu país e no entorno "uma cultura de tolerância e entendimento na melhor tradição do Islã". E acrescentou que a expansão do comércio bilateral Brasil-Paquistão, que duplicou neste ano, "é um indicativo das grandes potencialidades existentes" entre as duas nações. Para Lula, o encontro entre Mu-sharraf e empresários brasileiros, hoje, em São Paulo, permitirá identificar novas oportunidades de negócios. Entre as empresas a serem visitadas pela comitiva presidencial está a Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), em São José dos Campos.

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o comércio bilateral será de cerca de US$ 77 milhões neste ano. De janeiro a outubro, o Brasil exportou para o Paquistão US$ 72 milhões e importou US$ 4,9 milhões. Os principais produtos brasileiros vendidos ao Paquistão são sebo bovino, partes e acessórios de tratores e algodão. Também está sendo estudada a criação de um comitê empresarial Brasil-Paquistão, para a exploração de oportunidades de negócios.

Segundo Lula, os quatro atos bilaterais assinados ontem, nas áreas de combate ao narcotráfico, segurança alimentar, isenção de vistos e criação de mecanismo de consultas regulares sobre temas de interesse comum, também são a garantia de que Brasil e Paquistão continuarão a encontrar formas inova-doras de cooperar, para atender interesses comuns. Os dois presidentes conversaram sobre a coordenação no âmbito do G-20 e o combate mundial à fome e à pobreza. No âmbito do G-20, eles reafirmaram o compromisso com a eliminação dos subsídios que os países ricos concedem aos seus produtos agrícolas. O Paquistão é integrante do G-20, o grupo de economias exportadoras de produtos agrícolas que tem no Brasil uma de suas lideranças. O Brasil é a segunda etapa de um giro pelo mundo que o levará à Argentina, México, Estados Unidos, Grã Bretanha, França e Marrocos.