Título: Cotação do café sobe 27% no mês
Autor: Alexandre Inacio, Neila Baldi
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/11/2004, Agribusiness, p. B12
Problemas de qualidade no Brasil e quebra de safra na Colômbia elevam preço internacional. A perspectiva de problemas no abastecimento de café fez com que o preço do produto se valorizasse neste mês 27,2% em Nova York. Ontem, o contrato para entrega em dezembro fechou cotado a 94,65 centavos de dólar por libra-peso, variação de 6,4% sobre o dia anterior, rompendo linhas de resistência. Em Londres, o grão alcançou US$ 724 a tonelada (4,9%), a maior alta dos últimos dois meses. Segundo analistas de mercado, depois de quatro anos em crise, o grão vive um momento de alta que pode durar até dois anos.
Há um mês o grão estava cotado a 74,40 centavos de dólar a libra-peso, em Nova York. Foi quando ocorreu um terremoto na Colômbia e o preço disparou. Agora, comenta-se no mercado que está preocupado com a qualidade do grão brasileiro. Segundo estimativas do setor, o grão de 20% e 45% da safra atual, de 38 milhões de sacas (60 quilos) pode ser considerado ruim. "Vamos entrar em um período de vacas gordas, pois o mercado está ansioso por café de qualidade", afirma João Roberto Pulit, presidente da Comissão de Café da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
As constantes altas de preço que o mercado internacional vem registrando já pode causar efeitos nas indústrias internas. Com os preços de Nova York oscilando dentro da casa dos US$ 0,90 por libra as torrefações já conseguem planejar melhor um repasse de preços ao varejo, que, aliás, já está em curso. Os consumidores deverão sentir no bolso esse aumento dos preços do café a partir de janeiro de 2005. "Enquanto as oscilações são muito grandes as empresas não conseguem repassar imediatamente, mas quando elas se estabilizam, como vem acontecendo nas últimas três semanas, é possível fazer o repasse", afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic).
Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, acredita que o produto deva ficar em um patamar de US$ 1 a libra-peso. "Os fundos estão comprando com o objetivo de alcançar esse índice", afirma Claudemir Zafalon, da corretora La Salle. De acordo com Herszkowicz, da mesma forma que os exportadores estão encontrando dificuldade para comprar grãos de melhor qualidade, as indústrias nacionais também estão sendo obrigadas a pagar um pouco mais por um produto diferenciado. "Tanto isso é verdade que os cafés arábicas se valorizaram muito mais do que os outros cafés", afirma.
E a tendência de alta nos preços não será curta pelo que tudo indica. A oferta de café arábica deve permanecer restrita no ano que vem, segundo avaliação do presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Oswaldo Henrique Paiva Ribeiro. "Cerca de 30% da safra de 30 milhões de sacas de café arábica foi prejudicada este ano. Para a próxima safra, onde a produção será menor, a redução de cafés arábicas será de 40%", afirma Ribeiro.
A forte redução na oferta de cafés de qualidade superior, segundo o presidente da CNC, é o resultado de quatro anos de poucos investimentos nos tratos culturais. "Os produtores recebiam menos do que o custo de produção, por isso, não investiam ou simplesmente abandonavam as lavouras. Agora há, pelo menos, uma sinalização de que eles passaram a ter um lucro, apesar de ainda pequeno", diz.
Mercado diárioUma abertura relativamente positiva para o mercado de arábica na Bolsa de Mercadorias de Nova York reforçou a confiança. Mas somente na última meia hora de transações é que foi possível romper o nível principal de resistência a US$ 706 a tonelada e os compradores de fundos apareceram em um número significativo em Londres. Isto contribuiu para melhorar a confiança e hoje serão possíveis novas compras de fundos, mas ontem os traders temiam que os ganhos não durassem. Eles previam que vendas de origem dos fundos, pequenas parcelas das quais foram observadas ontem, seria provocada pela atual elevação dos preços. Segundo eles, esta venda aumentará ainda mais quando a colheita no Vietnã adquirir impulso.
Para o consultor Gil Barabach, da Safras & Mercado, compras de fundos especulativos e de indústrias fizeram com que ocorresse a forte alta de ontem. Segundo ele, o atraso na colheita na Colômbia e as notícias de que a safra brasileira não terá grão de qualidade provocaram a corrida pelas compras.
Além disso, ele acrescenta que os estoques certificados na bolsa de Nova York estão diminuindo. No início da comercialização da atual safra, ocorrido no final de junho, o volume era de 4,99 milhões de saca. Atualmente é de 4,55 milhões de sacas. "Fundamentalmente há um receio de desabastecimento", afirma. Segundo Carvalhaes, outra informação que poderia ter afetado o mercado ontem foi a notícia de ocorrência de tufão no Vietnã.