Título: Prefeitos defendem Lula, mas não poupama política econômica
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2004, Política, p. A6
A defesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as manifestações pela permanência dos ministros do PT no governo e as reações às críticas do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deram o tom no último dia do encontro entre prefeitos eleitos e reeleitos petistas realizado desde segunda-feira em Brasília.
Embalados pelo anúncio do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), os prefeitos divulgaram no final da tarde de ontem a "Carta de Brasília" na qual deixam claro o seu apoio ao governo federal. No documento de duas laudas, os prefeitos petistas revelaram o seu entusiasmo com a grande obra que está realizando o presidente Lula. "Sentimos o quanto o Brasil avançou. Saudamos a retomada do projeto de desenvolvimento e a retomada do crescimento econômico", ¿ diz o texto que também destaca as políticas externa e social do governo.
Descontentamento
O encontro reuniu 348 prefeitos. A carta, no entanto, não expressou o desejo de boa parte dos prefeitos petistas, manifestado durante a tarde de ontem, pela permanência de ministérios do Desenvolvimento Social, das Cidades e da Saúde nas mãos do PT. Até porque o documento foi elaborado anteontem durante o primeiro dia de debates, segundo o próprio secretário de Assuntos Institucionais do PT, Paulo Ferreira.
O movimento foi liderado pelos prefeitos eleitos de Nova Iguaçu (RJ), Lindberg Farias e de Fortaleza, Luizianne Lins, e encontrou ressonância na maioria dos presentes ao encontro. Na avaliação dos petistas, os ministérios são estratégicos e por isso devem permanecer com o PT sob pena de o governo perder a sua identidade. "Infelizmente não houve uma articulação para colocar esse assunto na carta. Mas defendemos que os ministérios fiquem com o partido para que não seja perdida a sua fisionomia. Se isso acontecer quem perde é o país", disse Lindberg.
Segundo o presidente do PT, José Genoino, as manifestações são públicas mas não poderiam ser feitas pela instituição PT. "Não tocamos no assunto reforma porque o presidente deve ficar à vontade para fazer o que bem entender. Mas a carta é legítima e representa a opinião de todos no partido", justificou o dirigente.
Política econômica
Também faltaram na carta divulgada ontem as cobranças e ponderações dos prefeitos a respeito dos rumos da política econômica. Em discursos durante o encontro, os prefeitos alertaram para a necessidade do desenvolvimento econômico e pediram a ajuda do governo na resolução de problemas nas áreas de infra-estrutura, saneamento, saúde e educação. Além da aprovação no Congresso da ampliação do Fundo de Participação dos Municípios. "Ajuste é necessário, mas devemos ficar alertas ao desenvolvimento econômico", cobrou a prefeita Luizianne Lins.
As declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de que o Governo Lula seria incompetente e não teria propostas para o País, também foram alvo da ira dos prefeitos e ministros presentes.
O prefeito reeleito de Aracaju, Marcelo Déda, disse que FHC, ao querer antecipar o debate para as eleições de 2006, está demonstrando irresponsabilidade e falta de compromisso com o País. Segundo Déda, o ex-presidente erra ao partir para a provocação, se fantasia de estadista e coloca o projeto político do PSDB acima dos interesses nacionais. "É só examinar os números de 2002 e de agora para saber quem é incompetente. As declarações foram chocantes. Ainda mais partindo de um ex-presidente. Trata-se de uma tática perigosa e arriscada para o PSDB voltar ao poder", afirmou Déda.
Para José Genoino, FHC assumiu uma postura sectária e arrogante. Mas, acrescentou, que o PT está disposto a partir para a disputa política com FHC se o ex-presidente quiser. "Os números do governo Lula estão incomodando FHC. E que competência é essa que ele fala ao se referir ao PSDB? A competência que gerou o apagão, o endividamento público e as privatizações mal feitas ? Na verdade, ele não quer que o Brasil dê certo", contra-atacou Genoino.
O ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, por sua vez, disse que Fernando Henrique não teria nenhuma razão para criticar Lula já que quebrou o País três vezes durante seus dois mandatos.