Título: Desentendimento geral com a MP do BC
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/12/2004, Política, p. A-7

A falta de entendimento entre o Palácio do Planalto e seus aliados no Congresso fez com que o governo optasse adiar a votação da reforma política, prevista para ontem, para garantir o apoio à medida provisória que concede condição de ministro ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A disposição pela votação da MP continuava até à 22 horas. Houve uma proposta por parte dos membros do governo de só ler o relatório e votá-lo na manhã de hoje juntamente com mais oito medidas provisórias.

Deputados do PSDB não aceitaram o pedido, pois achavam que a base não tinha quórum suficiente para aprovar a MP do presidente do BC. Eles chegaram pedir votação nominal.

O deputado Miro Teixeira (Sem partido-RJ) apresentou um destaque para a MP retroagir para beneficiar outros presidentes do BC. Para o deputado Ricardo Fiuza (PP- PE) "é uma irresponsabilidade que exista 81 processos contra os ex- presidentes e diretores do BC". Pressionado por PTB, PP e PL, e inseguro quanto ao voto dos partidos de esquerda - a bancada do PT fechou questão a favor da MP de Meirelles por 26 a 23 - o governo resolveu bancar o status de ministro de Meirelles em plenário e deixar a reforma política para outro dia.

Esforço de Luizinho

O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), iniciou o dia demonstrando a segurança que não havia. Pelos corredores e no salão verde da Casa, garantiu que os deputados aliados apoiariam a MP. Durante a reunião com a bancada do PT, apelou pela fidelidade da bancada governista, alegando que Meirelles está sob ameaça de prisão decretada por um juiz de Goiás. " Eles podem ter ganho no número, mas perderam feio no debate. Teve deputado que afirmou que votaria com o governo, mesmo admitindo que a edição da MP era um erro", lembrou o deputado Ivan Valente (PT-SP).

Defensor da MP no debate da bancada, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), lembrou que a maior autoridade monetária do País não pode ficar a mercê de um juiz de primeira instância. Criticou também a postura dos petistas, que, por muito pouco, não fechavam questão contra uma matéria encaminhadas pelo Planalto. " Isso seria uma suicídio político" resumiu o deputado petista gaúcho.

O PMDB resolveu dar uma trégua na queda-de-braço com o governo e encaminhar a votação a favor da MP de Meirelles. O líder do partido na Câmara, José Borba (PR), chegou a afirmar que a legenda apoiaria a proposta, feita pelo presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), de que a medida provisória do Banco Central tivesse validade transitória.