Título: As negociações entre Brasil e Argentina estão paradas, diz a Eletros
Autor: Rita Karam
Fonte: Gazeta Mercantil, 30/08/2004, Indústria & Serviços, p. A-16

As negociações entre o Brasil e a Argentina para venda de eletrodomésticos brasileiros para o país vizinho estão paradas. A coordenadora da comissão de comércio exterior da Eletros - Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, Maria Teresa Bustamante, informou que falta o governo argentino indicar um representante para a comissão que irá levantar o tamanho e as especificações do mercado de refrigeradores na Argentina e estabelecer cotas para os produtos brasileiros, como ficou acordado em julho último.

Além disso, as máquinas de lavar brasileiras estão paradas na fronteira no aguardo das licenças não-automáticas impostas também desde julho. Nesse compasso de espera, a Argentina tem aberto portas para outros países, como o México, um importante competidor, para conseguir suprir a demanda, disse Maria Tereza, representante dos empresários brasileiros na mesa de negociações. A executiva afirmou que a Argentina tem diversos acordos bilaterais que podem dar a terceiros países benefícios próximos aos acordados na formação do Mercosul.

Maria Teresa considera que será preciso reestruturar o Mercosul. "O problema, como se tem divulgado, não está apenas no setor eletroeletrônico e nem poderá ser solucionado por empresários dos dois países. Serão necessárias regras institucionais e jurídicas claras", afirmou. A coordenadora da comissão de comércio exterior da Eletros disse que de 1,4 mil medidas para vigorarem no Mercosul, 53% não foram implementadas.

Segundo a executiva, a comunidade européia enfrentou diferentes situações para conseguir a unificação, mas o processo foi beneficiado pelo estabelecimento de regras claras. "Em uma palestra recente, o ministro Lavagna (Roberto Lavagna, da economia) afirmou que o PIB da Argentina está com o mesmo índice de 30 anos. Não houve uma política industrial", disse Maria Teresa, ressaltando as dificuldades do processo de integração.

Os acordos acertados com os argentinos até agora - cotas para refrigeradores e fogões - valem até o final deste ano. No caso dos refrigeradores, não houve consenso quanto as cotas que estão em vigor hoje e ficou estabelecido que seria criada uma comissão para avaliar o tamanho do mercado para uma posterior redefinição. Já nas máquinas de lavar a recusa dos empresários brasileiros para a cota que a Argentina queria estabelecer provocou a imposição de licenças não-automáticas. Com isso, desde meados de julho, os produtos enviados para o país vizinho aguardam liberação da aduana argentina

O presidente do conselho da Eletros, Paulo Periquito, considera que o investimento da indústria brasileira na Argentina é difícil porque a operação exige montantes alto, no caso de refrigeradores de aproximadamente US$ 50 milhões para uma linha de produção que só se torna viável com cerca de 500 mil produtos anuais.

Setor em recuperação

Maria Teresa e Paulo Periquito participaram, na sexta-feira, em São Paulo, do evento de comemoração dos 10 anos de fundação da Eletros. Durante a solenidade, o presidente executivo da Eletros, Paulo Saab, informou que o setor está em recuperação, mas os números deste ano ainda devem ficar abaixo das cerca de 35 milhões de unidades vendidas em 1998 e em 2000. A estimativa de Saab é de vendas próximas a 33 milhões de aparelhos. Em 1996, quando essa indústria registrou um dos melhores desempenhos, foram vendidas 46 milhões de unidades.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luís Fernando Furlan, que participou do evento da Eletros representando o presidente Luís Inácio Lula da Silva, disse aos empresários que questões vinculadas a melhorias nos portos brasileiros estarão resolvidas ainda este ano e que o crescimento do PIB passará dos 4%. Furlan afirmou ainda que a indústria de Manaus precisa de maior divulgação.