Título: Expectativa de vida só não é maior por causa de morte por violência
Autor: Mônica Magnavita
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/12/2004, Nacional, p. A-4
A expectativa de vida do brasileiro, que em média era de 70,5 anos, subiu para 71,3 anos, em 2003, o que representou um aumento de 0,8 ano em relação à esperança de vida em 2000, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os dados naturalmente, são positivos, mas a má notícia embutida nas contas do IBGE é que os brasileiros, em média, poderiam viver de dois anos a três anos mais se não fossem as mortes prematuras de jovens por violência. Ou seja, homicídios e acidentes de trânsito.
"Na faixa entre 20 e 24 anos, a mortalidade dos homens é quatro vezes maior do que a das mulheres. A diferença mais expressiva ocorre na idade de 22 anos, quando a mortalidade masculina é 4,2 vezes superior à feminina. E isso ocorre em conseqüência da violência", disse o gerente de Estudos e Análises Demográficas, Juarez de Castro Oliveira.
Os técnicos do IBGE chegaram a essa conclusão realizando uma simulação que excluía o efeito de mortes violentas sobre as estatísticas e supondo que todas as causas de mortes fossem naturais.
As chances de um homem jovem morrer mais cedo que uma mulher da mesma idade são, hoje, maiores do que foram nos anos 80. Segundo Oliveira, desde 1980, as mortes associadas à violência reduziram o ritmo de crescimento da expectativa de vida e passaram a ter um papel de destaque, desfavorável, sobre a estrutura por idade das taxas de mortalidade.
Historicamente, as taxas de mortalidade em todas as idades vem caindo no Brasil. Ainda assim, a expectativa de vida média do brasileiro ainda é relativamente baixa e está distante daquela dos países desenvolvidos. A esperança de vida ao nascer, de 71,3 anos, coloca o Brasil na 86 posição no ranking da Organização das Nações Unidas (ONU), entre as estimativas feitas para 192 países entre 2000 e 2005. No Japão, por exemplo, a vida média é superior a 81 anos. "Só vamos atingir esse patamar em 2040", disse o gerente de Estudos e Análises Demográficas do IBGE.
Entre 1980 e 2003 a esperança de vida ao nascer, no Brasil, aumentou em 8,8 anos, mais 7,9 anos para os homens e mais 9,5 anos para as mulheres. Em 1980, uma pessoa com 60 anos teria, em média, mais 16,4 anos, somando 76,4 anos. Vinte e três anos depois, essa mesma pessoa alcançaria, em média, 80,6 anos.
Outra boa notícia está ligada à redução da mortalidade infantil, no ano passado, em 8,6% em relação a 2000. A queda da taxa de mortalidade infantil - hoje para cada mil crianças que nascem 27,5 não sobrevivem (no Japão, a proporção é de três para cada mil) - é resultado da melhoria das condições de saúde pública, segundo Oliveira. Paralelamente a essa queda e à diminuição da fecundidade, a expectativa de vida do brasileiro cresceu no País. Os dados do IBGE são relevantes para a formulação de políticas públicas, que incluam, por exemplo, um programa de previdência sustentável.