Título: A Argentina nunca comprou tanto do Brasil
Autor: Ismael Pfeifer e Cristina Borges Guimarães
Fonte: Gazeta Mercantil, 02/12/2004, nacional, p. A-6

Exportação para vizinho atingirá US$ 7,3 bi este ano. A sempre tumultuada relação comercial com a Argentina não impediu que em 2004 o Brasil já assegurasse a quebra de todos os recordes de exportações ao vizinho. Com base nos resultados da balança comercial de novembro divulgados ontem pelo governo brasileiro, projeta-se para 2004 um volume de US$ 7,29 bilhões em vendas ao mercado argentino, recorde histórico - superou 1997, com exportações de US$ 6,769 bilhões.

A diferença significativa é que naqueles tempos - de real e de peso supervalorizados - as compras brasileiras da Argentina eram bem maiores, rondavam os US$ 8 bilhões - o que dava vantagem ao parceiro do Mercosul de mais de US$ 1 bilhão ao ano, tanto em 1997 quanto em 1998. Hoje, a correlação se inverteu. O Brasil vai comprar em 2004 da Argentina em torno de US$ 5,5 bilhões, o que significará o primeiro superávit brasileiro em dez anos, de US$ 1,7 bilhão, também um recorde.

Este ano o vizinho voltou a ser o segundo maior comprador do Brasil, só atrás, como sempre, dos Estados Unidos (estimam-se cerca de US$ 19 bilhões este ano), e já distante da China, cujas compras devem ficar abaixo de US$ 6 bilhões.

Chama a atenção o fato de que a disparada de vendas à Argentina ocorre num ano em que o governo de Néstor Kircher empreendeu uma série de ações contra o produto brasileiro. Carros (60% das vendas locais são de brasileiros), televisores, geladeiras, máquinas de lavar, calçados e têxteis, se ainda não sofreram restrições, estão sob ameaça.

Mas a balança de novembro trouxe também uma boa notícia à Argentina. As compras brasileiras chegaram a US$ 570 milhões, a melhor marca desde 2001. "É um sinal de reequilíbrio, que tende a reduzir os conflitos", resume o especialista argentino Dante Sica, presidente do CEB, instituto que faz estudos sobre o tema.