Título: Coréia do Sul, opção pelo crescimento
Autor: Luciana Otoni
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/11/2004, Nacional, p. A-5

Às forças do mercado, o país associou uma estratégia nacional para chegar ao primeiro mundo. As exportações da Coréia do Sul chegarão este ano a US$ 200 bilhões. A cifra corresponde a mais que o dobro das vendas feitas pelo Brasil no exterior em 2004, que somarão US$ 94 bilhões, um resultado recorde para as contas brasileiras. A diferença da balança comercial é apenas um aspecto que separa essas duas economias tão díspares.

Entre 1962 e 2003, o Produto Interno Bruto (PIB) da Coréia do Sul, um país menor que o Japão e com limitadas reservas naturais, passou de US$ 2,3 bilhões para US$ 586 bilhões. Esse desempenho notável é conhecido como o "Milagre Econômico de Hangang" ¿ uma referência ao rio que corta a capital Seul ¿ e que transformou um país de agricultura rudimentar na 10ª maior economia mundial pelo ranking da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

"Ocupamos o 10º lugar em conseqüência de uma política de crescimento orientada pelas exportações. Em 1960, nossa participação no comércio mundial era de 0,2% e hoje é de 2,4%", explicou o diretor para América Latina e Caribe do Ministério de Comércio Exterior da Coréia do Sul, Soon Tae Kim. Pelo ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI), a Coréia ocupa a 11ª posição.

No intervalo de quatro décadas que caracterizou o salto sul-coreano, o Brasil - que possui ampla disponibilidade de recursos naturais, matérias-primas e um território em que cabem 85 coréias - perdeu posições no ranking das maiores economias, passando do 8º para 15º lugar. E a participação brasileira no comércio mundial mantém-se em 1%.

Num momento em que se debate a capacidade de o Brasil crescer a taxas superiores a 3,5% ao ano, a Esplanada dos Ministérios, em Brasília, discute, de forma cada vez mais intensa, o modelo coreano de desenvolvimento. Tanto que tornou as exportações uma política de governo e selecionou a avançada área dos semicondutores como uma das prioridades da política industrial. Os semicondutores tornaram-se, nas últimas décadas, uma das plataformas da inovação tecnológica sul-coreana.

No entanto, persiste no Brasil a ausência de dois dos três fundamentos do modelo coreano: investimento em educação (que permitiu à Coréia desenvolver cérebros e dominar a tecnologia com reflexo direto na exportação de manufaturados) e planejamento de médio e longo prazo (infra-estrutura e bem-estar social).

Outra limitação tem sido a dificuldade do Brasil em ampliar os investimentos estrangeiros. O representante da Embaixada da Coréia em Washington, Kee Woo, apontou a carga tributária como um entrave aos investidores estrangeiros. Os últimos dados oficiais disponíveis mostram que a carga tributária atingiu 35,68% do PIB em 2003. Neste ano até outubro, o Brasil recebeu US$ 13,697 bilhões em investimentos estrangeiros diretos. Apesar de ser um resultado inferior ao necessário para uma economia em crescimento, é superior aos US$ 6,781 bilhões captados em igual período do ano passado.

Sob a ótica dos empreendedores coreanos, o governo brasileiro deveria dar tratamento fiscal diferenciado para as empresas estrangeiras dispostas a fazer inversões no País. Essa reivindicação é particularmente solicitada para os setores ligados à tecnologia. Em 2005, Coréia do Sul, Brasil, Paraguai e Uruguai iniciarão um estudo de viabilidade sobre a conveniência ou não da adoção de um tratado de livre comércio. Entre os assuntos a serem tratados, os coreanos querem colocar em pauta as condições para investimento no setor serviços.

"O Mercosul possui competitividade no setor agrícola e a Coréia do Sul, em produção industrial. Um tratado de livre comércio serviria para incrementar o comércio global. Há um marco muito amplo: investimentos em serviços, cooperação econômica e cooperação industrial", informou Soon Tae Kim.