Título: Bastos não quer pressão por abertura
Autor: Hugo Marques
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/11/2004, Política, p. A-8

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva define nesta semana o ritmo e a maneira como serão abertos os arquivos da ditadura. O anúncio foi feito na sexta-feira pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, durante visita à cidade de Dourados, onde inaugurou uma delegacia da Polícia Federal. O município fica a 100Km do Paraguai e é a principal rota do narcotráfico na fronteira brasileira. Bastos avisou que o governo não vai ceder a pressões, venham de onde vierem. "É dentro do ritmo do governo, não pode ser objeto de pressões. As pressões são democráticas e legítimas, mas o governo tem a sua própria maneira e o seu próprio tempo de fazer essas coisas", declarou. Márcio Thomaz Bastos preferiu não condenar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (19915-2002), que baixou no final do seu governo um decreto prolongando o período para a abertura dos arquivos. O ministro, no entanto, comentou a confissão de FHC, que reconheceu ter assinado o decreto sem prestar muita atenção na dimensão do tema. "Ele reconheceu o erro, um erro da sua assessoria. Não quero dar opinião, respeito muito o presidente Fernando Henrique Cardoso e acho que as suas palavras falam por si", disse Thomaz Bastos.

O presidente Lula, que reunirá sua equipe nesta semana, deve tomar uma medida técnica sobre a abertura dos arquivos. Bastos disse que o governo pretende "avançar na questão, até chegar a um ponto satisfatório para todos".

O ministro da Justiça afirmou ainda que o governo quer abrir os arquivos com o mínimo de trauma possível e "da melhor maneira para o Brasil". Ele sabe que está diante de um assunto delicado, mas afirmou que governar exige paciência, bom-senso e coragem.

Durante a visita a Dourados, o ministro inaugurou a delegacia da Polícia Federal, no centro da cidade, que tem mais de 18 mil m² de área construída. Dourados é a cidade onde mais se apreende drogas em todo o planeta, segundo o coordenador de segurança privada da PF, delegado Wantuir Jacine.

Nos últimos quatro anos, a PF de Dourados recolheu 500 toneladas de maconha, 15 toneladas de cocaína, prendeu 5 mil traficantes, apreendeu 1.500 veículos e 65 aviões. Segundo Jacine, o total de apreensões da PF no Estado nos últimos quatro anos atinge um valor de R$ 20 bilhões. Na lista estão centenas de fazendas, prédios e bens de grandes traficantes. A delegacia da PF em Dourados é uma verdadeira fortaleza. Tem até uma sala-cofre com porta de cofre de banco, no qual é possível armazenar 100 toneladas de drogas.

Jacine afirmou que a nova delegacia é à prova de ataque dos traficantes. "Aqui é um bunker. Eles vão ter que botar uma bomba atômica", disse Jacine.

Diamantes garimpadosO ministro Márcio Thomaz Bastos comentou decisão da Justiça Federal de Rondônia, que considerou inconstitucional a Medida Provisória que permite à Caixa vender os diamantes garimpados na reserva Roosevelt. Thomaz Bastos afirmou que a Advocacia-Geral da União vai recorrer contra a liminar para tentar cassá-la na Justiça. Bastos pediu ao governador José Orcírio de Mirada (Zeca do PT) que ajude o governo na campanha do desarmamento.

Para uma platéia que lotou a delegacia da PF, Bastos afirmou que o problema das armas atingiu nível de "epidemia" pior do que a Aids e a Dengue. Em sua caravana pelo País, o ministro já visitou 26 unidades da federação. Hoje, ele fecha a Caravana do Desarmamento no Rio. O ministro disse que a campanha do desarmamento vai ajudar a reduzir bastante o número de homicídios entre os jovens.