Título: Nova técnica de secagem é aplicada no Pará
Autor: Raimundo José Pinto
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/11/2004, Indústria & Serviços, p. A-11

Uma nova técnica desenvolvida pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) da Amazônia Oriental está entusiasmando empresários do setor madeireiro, por ser mais barata e mais rápida que os métodos empregados atualmente. Em alguns segmentos do setor, como a fabricação de móveis, o processo de secagem chega a representar quase 80% dos custos.

De acordo com estimativas de produtores, pelo método tradicional, um secador com capacidade de 100 metros cúbicos é capaz de efetuar 22 processos ao ano, gerando faturamento de cerca de US$ 99 mil. Pelo novo método, é possível fazer 37,5 secagens com a mesma capacidade, com vendas de US$ 185,6 mil.

"O método permite reduzir o tempo de secagem em até 50%. É um patamar muito expressivo, considerando que cada procedimento desses custa entre US$ 40 e US$ 80", afirmou Danilo Remor, empresário da MG Madeireira Araguaia e presidente da Federação das Indústrias do Pará (Fiepa).

O processo industrial de secagem acelerada de madeira é resultado da tese de doutorado de Osmar Aguiar, pesquisador da Embrapa em Belém, na Ecóle Nationale du Génie Rural dês Eaux et dês Forêts (Engref), na França. Consiste num processo industrial que permite a secagem de todas as espécies de madeira, baseado nas suas propriedades reológicas (a reologia é o ramo da mecânica que estuda as deformações e o fluxo da matéria). Em termos mais simples, trata-se de um processo que permite trabalhar na secagem da madeira com altas temperaturas - o que não ocorre pelo método tradicional -, através de um sistema de automação, sem a variação de temperaturas do processo tradicional, que prejudica a secagem. A emperatura média é de 80 graus, para qualquer tipo de madeira. Ou seja: é utilizada uma temperatura adequada, que permite que a madeira seque sem danos.

Assim, é possível obter uma madeira seca de alta qualidade, com percentual de perda por empenamento e rachaduras de apenas 1%, contra os mais de 10% dos processos tradicionais. Além disso, é possível secar várias espécies em uma mesma carga de madeira serrada, o que também não é permitido pelos métodos atuais.

Embora a redução do tempo de secagem pelo novo processo fique em torno dos 50%, há casos em que esse ganho é muito maior. O carvalho, madeira nobre utilizada na fabricação de móveis, instrumentos musicais e tonéis, pode levar mais de um ano para secar pelo processo tradicional. Pelo novo processo, esse tempo cai para inacreditáveis 12 a 15 dias. Outra grande vantagem é que não há necessidade de uma pré-secagem. As espécies de madeira consideradas de difícil manuseio, como os eucaliptos, goiabão, massaranduba e tatajuba, entre outras, precisam de uma secagem prévia ao ar livre, com uma série de inconvenientes, como o longo tempo de secagem e perda da qualidade da madeira, que fica exposta à chuva e ao sol, sujeita a ataques de fungos e insetos. Com a eliminação da pré-secagem, há a redução de custo, diminuição de mão-de-obra e redução de área de estoque.

O novo processo já foi patenteado no Brasil pela Embrapa e na França pela Engref. A patente também já está sendo obtida no Canadá e Estados Unidos. O pesquisador admite que foi difícil sua tese ser aceita, principalmente no exterior, porque ele está colocando de lado tudo que havia sobre o assunto. No Brasil, por exemplo, são pelo menos 130 diferentes variáveis de secagem. E ele está simplesmente indicando apenas uma para todos os tipos.

Com o depósito da patente no Brasil, a técnica deverá gerar bons frutos em termos de royalties à Embrapa, órgão que nos últimos anos vem enfrentando dificuldades financeiras para levar adiante algumas de suas importantes pesquisas. O empresário Celso Martini, da Marrari, de Curitiba, especializada em automação industrial e que está trabalhando junto com a Embrapa nesse projeto, não tem dúvida em afirmar que a empresa de pesquisa agropecuária terá ótimos resultados com a sua comercialização. "Está todo mundo ansioso para saber quando esse processo vai estar disponível para comercialização, pois a relação custo-benefício é muito vantajosa". Ele disse acreditar que isso deverá ocorrer dentro de seis meses, embora algumas indústrias de Belém já estejam utilizando-o experimentalmente.

Osmar Aguiar explicou que a secagem é um item importante na utilização da madeira. Um caminhão que transporta dez toneladas de madeira que não passou pelo processo de secagem, na verdade movimenta cinco toneladas de madeira e outras cinco de água. Para transportar dez toneladas de madeira de Belém a São Paulo, o custo chega a algo entre R$ 10 mil e R$ 12 mil. Além do peso, a madeira úmida é ruim para ser trabalhada, não dá um bom acabamento. "Se você trabalhar com uma madeira úmida, o material perde qualidade depois de pronto, aparecem fendas e rachaduras".Danilo Remor não tem dúvida quanto à repercussão que essa invenção terá na economia do Pará e no setor madeireiro nacional. A atividade representa hoje algo em torno de 15% do PIB paraense, com a geração de 60 mil empregos diretos e pelo menos outros 200 mil indiretos. É o terceiro produto na pauta de exportações do estado, só perdendo para o minério de ferro e o alumínio. De janeiro a outubro deste ano, o Pará já exportou o equivalente a US$ 430 milhões em madeira, um crescimento de 46% em relação ao mesmo período do ano passado. Isso sem contar com os móveis e outros artigos de madeira, cujas exportações atingiram US$ 5,6 milhões no mesmo período, um aumento de 57,22%.

kicker: Processo, que permite redução de custos, foi resultado de tese de doutorado