Título: Operadoras buscam receita com serviços
Autor: Marcos Lopes Padilha/ Panorama Setorial
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/11/2004, P.Setorial-Mercado de Telefonia Celular, p. A-14

Além de atrair novos clientes, as empresas procuram ampliar o tempo de uso do aparelho pelos usuários. A base de telefones celulares no Brasil registra expansão explosiva, devendo fechar 2004 com cerca de 65 milhões de acessos, um aumento de quase 20 milhões em relação a 2003.

Em outubro de 2004, a base móvel do País aproximou-se da casa dos 60 milhões de acessos (59,7 milhões), com crescimento de 42,4% em 12 meses. Só nos dez primeiros meses de 2004 foram habilitados 13,3 milhões de telefones móveis, o que representa média mensal de 1,33 milhão de habilitações e um incremento de quase 90% de novos acessos em relação aos 7 milhões do mesmo período de 2003.

A base móvel no Brasil ainda tem grande potencial de crescimento. No País, o celular tornou-se em pouco tempo o bem de consumo durável mais desejado por todas as camadas da população. As facilidades de aquisição do aparelho são imensas, as operadoras e os principais canais varejistas permitem o parcelamento do preço do aparelho, e o advento da modalidade de plano pré-pago viabilizou sua posse pelas camadas populares.

Segundo The Yankee Group, o Brasil deverá fechar 2004 com 65 milhões de acessos. Em 2008, chegará a 84,2 milhões de acessos. Entretanto, o instituto de pesquisa projeta uma redução no ritmo de crescimento da base móvel do País a partir de 2005.

Pressão sobre os resultados

O acentuado incremento da telefonia celular tem sido acompanhado de efeitos contrastantes sobre o resultado das operadoras, com crescimento da receita conjugado com pressão acentuada sobre as margens de lucro.

De fato, o segmento de telefonia celular registrou receita líquida de R$ 20,4 bilhões, em 2003, com aumento real de 3,1% sobre o ano anterior, de acordo com a revista Balanço Anual, da Gazeta Mercantil, considerando um grupo de 30 empresas analisadas. Segundo a mesma fonte, o segmento teve prejuízo líquido de R$ 4,8 bilhões, embora tenha registrado um ebitda positivo superior a R$ 5 bilhões.

Outro indicador sintomático é que a receita média por usuário (Arpu) tem caído ano após ano. De R$ 73,40, em 1999, para R$ 49,47, em 2003, na contramão do crescimento da base móvel.

Entre as principais causas para a queda do Arpu encontra-se o incremento do número de celulares pré-pagos entre os clientes das operadoras. De fato, ao final do primeiro semestre de 2004, o pré-pago aproximava-se dos 80% da base móvel (mais de 43,7 milhões de acessos), deixando somente 20% para o pós-pago (plano do serviço mais rentável para as operadoras). Em outubro de 2004, considerando uma base de 59,7 milhões de acessos, o pré-pago somava 47,6 milhões (79,7% do total), e o pós-pago, 12,1 milhões (20,3%).

Tal fenômeno tem sido potencializado pelo acirramento da concorrência no mercado brasileiro. Atualmente, há em todo o País de três a quatro operadoras na disputa pelo usuário em cada área. O cenário é marcado pela entrada de novas operadoras, como TIM e Claro, que procuram crescer rapidamente, protagonizando uma "guerra de preços" com a líder Vivo, além de disputarem os clientes corporativos e os de alto tráfego.

Aposta nos serviços de dados

Esse cenário determina as estratégias dos grandes grupos de telefonia. De um lado, manter o intenso ritmo de expansão, com agressivas campanhas de atração de novos clientes, buscando ampliar o market share, em um ambiente de agressiva competitividade. De outro lado, procurar ampliar o tempo de uso do aparelho por usuário, lançando mão de uma série de novos serviços de transmissão de dados, incluindo aqueles relacionados com acesso à internet, envio de e-mail e download e upload de arquivos de multimídia, entre outros.

No Brasil, as receitas das operadoras com serviços de dados ainda representam pouco - entre 4% e 5% da receita total das operadoras.

O envio de mensagens curtas (Short Message Services - SMS), também conhecidas como "torpedos", lançado em 1999 no Brasil, foi o primeiro na linha de serviços adicionais para celulares no País. Trata-se do serviço de dados mais acessado. Ao final do primeiro semestre de 2004, a Vivo já computava mais de 7 milhões de usuários de SMS, trocando mais de 200 milhões de mensagens por mês. Na mesma época, a Oi contabilizava cerca de 92 milhões de mensagens. Na Claro, a troca de torpedos atingiu 85 milhões de mensagens, no segundo trimestre de 2004.

As operadoras também têm se empenhado em dirigir os lançamentos de novos serviços preferencialmente para o público jovem, com destaque para o download de games, ringtones, wallpapers, screen savers e ícones. Trata-se de uma estratégia inquestionável. No final de 2003, dos 4 milhões de clientes da Vivo que trocavam mensagens de texto, 80% tinham entre 13 e 25 anos, e dos usuários do serviço de chat, 90% estavam nessa mesma faixa de idade. Na mesma época, dos 3 milhões de usuários da blah!, empresa que desenvolve serviços para celular, 85% tinham de 15 a 25 anos.

A popularidade do download de ringtones abriu espaço para várias companhias que desenvolvem e distribuem conteúdo para celular, incluindo blah!, Tellvox, PMovil, Tiaxa, SupportComm, Meantime, Takenet, WIZ Technologies e One World Interactive, entre outras.

Outro foco são os usuários corporativos, com contas muito mais rentáveis que as de usuários residenciais. Para isso, foram criados braços especializados, como a TIM Business, a Vivo Empresas e a Claro Empresas, que oferecem soluções customizadas para corporações de pequeno, médio e grande portes, que garantem conectividade não apenas em celulares mas também em ferramentas normalmente utilizadas por profissionais em campo, como palmtops e notebooks.

Nesse segmento, a novidade, em 2004, foi o lançamento da tecnologia push-to-talk, um aplicativo semelhante ao trunking, que permite que os usuários se comuniquem com diversas pessoas ao mesmo tempo, por meio de uma linha compartilhada, com um simples toque de botão. O novo serviço foi anunciado pela Vivo e pela Claro.