Título: Produto nacional ganha selo de qualidade
Autor: Tânia Nogueira Alvares
Fonte: Gazeta Mercantil, 29/11/2004, Pequenas e Médias Empresas, p. A-15

PG e Gepco investem em certificação para disputar fatia do mercado internacional. Fabricantes brasileiros de vidros blindados começam a ganhar espaço no mercado internacional. A conquista de consumidores em países exigentes como a Alemanha vem compensar a retração do mercado interno devido às "blindagens piratas", produtos de menor qualidade e preços mais baixos, afirma Edson Yoshijuma, presidente da PG Products.

Para disputar uma parcela de um mercado dominado por renomadas marcas internacionais, como a italiana Isoclima, a PG, criada há seis anos, desenvolveu o SteelGlass, vidro blindado com moldura de aço adequado também a vidros curvos. Além dos testes nacionais junto ao Exército Brasileiro, a PG submeteu seus produtos aos testes de certificação nos prováveis países importadores, como a Alemanha, que já aprovou a qualidade do vidro da PG, diz Yoshijuma. A empresa fatura cerca de US$ 2,9 milhões por ano, com a produção de 40 a 45 jogos de vidros blindados.

Segundo Fernando Lazzari, sócio da PG Products e presidente da Câmara Setorial de Insumos para Blindados da Associação Nacional de Normatização e Proteção Balística (ANDB), os fabricantes brasileiros se desenvolveram bem tecnologicamente e hoje produzem em torno de 3 mil jogos de vidros por ano, volume que deve crescer marginalmente este ano, principalmente por causa da exportação.

Os mercados com maior potencial são o europeu, o asiático e também os sul-americanos, em especial a Argentina. "O Brasil tem tecnologia, qualidade e preço," diz Lazzari para justificar a demanda externa pelo produto nacional.

No caso da PG, seus produtos passaram por testes nos Estados Unidos e na Alemanha. A expectativa é de que, já no primeiro ano, a PG exporte 120 jogos de vidros nível 3A. Cada jogo tem valor no mercado internacional entre US$ 6 mil e US$ 7 mil, diz Yoshijuma.

No Brasil, a certificação quanto à resistência balística é concedida pelo CTEX - Centro Técnico do Exército. Todos os fabricantes de vidros e compostos para parte opaca devem ter seus produtos aprovados por este órgão. O controle dos carros blindados é feito pelo Departamento de Fiscalização de Produtos Controlados do Exército (DFPC). Segundo Lazzari, está sendo estudada uma parceria com o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) para que este fique responsável pela inspeção veicular e fiscalização dos carros blindados, enquanto o Exército ficaria responsável pelos blindadores.

Outra empresa que tem feito várias ações em direção ao mercado externo é a Gepco, fabricante de vidros blindados há nove anos. Segundo Gerson Branco, presidente da empresa, o crescimento da violência no mundo tem ampliado a demanda internacional e as grandes montadoras - e exportadoras - de carros blindados nos Estados Unidos e na Europa têm analisado o produto nacional.

A Gepco tem tentado entrar nos mercados americano e canadanse via México e também já exporta para a Argentina e outros países da América Latina. A empresa também sentiu o baque da acentuada retração do mercado.

Até 2002, o mercado registrava taxa de crescimento de 30% ao ano. Em 2003, a alta do dólar provocada pelas eleições presidenciais resultou em uma retração de 45%, afirma o presidente da Gepco. "Voltamos ao nível de 2001."

Branco estima que, em 2002, o Brasil fabricou ao redor de 5 mil jogos de vidros blindados. Em 2003, caiu praticamente pela metade. Este ano, em sua opinião, deve reagir para aproximadamente 3,5 mil jogos.

O aumento da concorrência também derrubou os preços para menos da metade - de US$ 9 mil em 2001 para US$ 4 mil, cotação deste ano para o jogo de vidros de primeira linha, feito de policarbonato de alta resistência, boa durabilidade, sem distorção óptica, de nível balístico 3A da norma NIJ (National Institute of Justice, do governo dos Estados Unidos), que resiste a disparos de armas como o revólver Magnum 44 e a submetralhadora 9mm.

Multis se instalam no Brasil

Mesmo a vantagem da mão-de-obra brasileira relativamente mais barata que a européia e a americana e de boa qualificação acabou sendo relativizada com a instalação das grandes fabricantes mundiais no País, como a AGP, a Pilkington Aerospace e GKN.

Os fabricantes decidiram criar uma comissão especial dentro da ABNT para elaborar uma nova norma balística brasileira que norteie a blindagem de automóveis, dentro dos padrões do Exército e da NIJ. Seria uma forma de criar um selo de qualidade e reduzir o avanço do vidro pirata, diz Branco.