Título: Compra de bens de capital é a maior em 10 anos
Autor: Patrícia Nakamura
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/12/2004, Primeira Página, p. A-1

Indústria investiu, mas teme a baixa cotação do dólar. O setor de bens de capital vai fechar 2004 com o melhor desempenho dos últimos dez anos. Levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) revela que, nos primeiros dez meses do ano, o consumo aparente de máquinas e equipamentos no Brasil (vendas internas mais importações) atingiu R$ 37,52 bilhões, um crescimento de 18,5% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o consumo aparente alcançou R$ 31,65 bilhões.

Esse desempenho, de acordo com o presidente da entidade, Newton de Mello, traduz a disposição da indústria brasileira em investir em expansão e modernização de seu parque fabril. A participação dos bens importados no consumo aparente de equipamentos é de 44%, percentual considerado "saudável" pelo executivo. "Isso não significa incapacidade para fabricar o maquinário no Brasil; simplesmente não há escala no País que justifique a produção local de certos itens."

Outro indicador importante do setor é o tempo que os fabricantes levam para atender às encomendas. Os pedidos em carteira têm levado cerca de 120 dias para serem entregues, ante a média histórica de 90 dias. O executivo disse acreditar que o faturamento total de bens de capital possa superar os R$ 40 bilhões, previstos alguns meses atrás.

"Dificilmente teremos em 2005 um ano tão bom quanto este", afirmou o presidente da entidade, que também dirige a Mello S.A. Máquinas e Equipamentos, fabricante de retificadores. "A desvalorização do dólar frente ao real começa a afetar a competitividade brasileira." Para honrar as encomendas, algumas empresas têm registrado prejuízo com as exportações.

O dólar barato pode estimular a importação de maquinário, pondera Mello. "Mas o pior é que cria um grande problema com a possível perda de clientes conquistados no mercado externo ao longo dos anos."

A entidade estima que, para preservar a rentabilidade, o dólar precisa ficar acima de R$ 3. "A cotação do dólar chega a assustar mais que a alta na taxa de juros, pois o setor ainda tem como alternativa financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) corrigidos pela TJLP", disse.