Título: Previsão de IPCA maior deve dificultar redução da taxa básica de juros
Autor: Edna Simão
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/08/2004, Nacional, p. A-4
O mercado projeta uma inflação maior tanto para este ano quanto para o ano que vem, o que vai dificultar a queda da taxa básica de juros (Selic), que atualmente está em 16% ao ano. Os indicadores de inflação no varejo estão todos em alta, por conta do aumento, também, da demanda doméstica, de acordo com os números da pesquisa semanal realizada pelo Banco Central (BC) com aproximadamente cem analistas e consultores de mercado - o Boletim Focus, divulgado toda segunda-feira.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu de 7,19% para 7,25%; o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisa Econômica (IPC-Fipe) passou de 6,42% para 6,58% e o índice de preços administrados evoluiu de 8,39% para 8,40% no ano. A pesquisa indica que o IPCA - índice que serve de parâmetro para as correções oficiais - deste mês vai ficar em 0,61% e que os preços no atacado pararam de evoluir. Para o próximo ano, a estimativa de mercado teve uma ligeira elevação, passando de 5,5% para 5,52% - acima da meta central de inflação de 4,5%.
A pesquisa também tabulou um pequeno aumento das estimativas de reajuste dos preços administrados para este ano, de 8,39% para 8,40%. As previsões de aumento dos preços administrados para 2005 passaram de 6,65% para 6,75%. Essas elevações foram registradas na pesquisa apesar do preço do petróleo no mercado internacional ter registrado uma tendência de queda.
Diante do cenário de inflação mais alta, o Boletim Focus trabalha com uma taxa básica de juros (Selic) de 16% no final deste ano. Para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, a expectativa é de manutenção dos juros nos atuais 16% ao ano.
Por outro lado, a previsão de crescimento econômico do País atingiu a marca de 4% para 2004. Na pesquisa anterior, era esperado um avanço de 3,97%. A expectativa de avanço econômico para o ano que vem foi mantida em 3,5%. Quanto à produção industrial, a previsão subiu pela nona vez consecutiva, passando de 6,09% para 6,28%. Para 2005, esta previsão ficou mantida em 4,07%.
A pesquisa prevê ainda um superávit comercial de US$ 30,58 bilhões para o final deste ano, o que representa uma elevação de US$ 480 milhões na comparação com o saldo de US$ 30,1 bilhões estimado pela pesquisa anterior. Para 2005, é esperado um superávit de US$ 26 bilhões. O resultado positivo da balança comercial brasileira impacta diretamente nas previsões de superávit em conta corrente. Para o final deste ano, o mercado espera um superávit em transações correntes de US$ 7,4 bilhões. Na pesquisa anterior, a expectativa era de um saldo positivo de US$ 7 bilhões. Para o próximo ano, a previsão é de um superávit em conta corrente de US$ 3 bilhões.
Sobre a previsão do nível de endividamento do País em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), a pesquisa aponta queda nas expectativas de 56,75% para 56,7% do PIB neste ano. Para 2005, a estimativa subiu de 55% para 55,10%.
Os economistas ouvidos pelo BC trabalham ainda a entrada de US$ 10 bilhões em investimento estrangeiro direto neste ano. Para o ano que vem, a expectativa é de um ingresso de US$ 12,45 bilhões. O mercado manteve a expectativa de taxa de câmbio em R$ 3,10 no final de 2004 (R$ 3,20 em 2005), mas reduziu um pouco a perspectiva da taxa média de câmbio, para R$ 3,02 (R$ 3,15 em 2005), num cenário em que a taxa básica de juros permaneça nos atuais 16% ao ano (14,75% no ano que vem).