Título: Falta de investimento impede avanços
Autor: Mariana Mazza
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/08/2004, Nacional, p. A-8

A evolução da indústria brasileira e a manutenção do crescimento do volume das exportações têm um grande obstáculo pela frente: a falta de estrutura logística do País. A situação que a infra-estrutura de transportes do Brasil encontra-se hoje é gravíssima, dizem os principais empresários.

Todos os modais sofrem com a falta de investimentos durante os últimos anos e com a dificuldade jurídica para viabilizar parcerias que minimizem os chamados "gargalos" logísticos. A questão se agravou de tal maneira que começou a se falar em um "apagão logístico", metáfora criada para alertar que a falta de investimentos nos transportes pode trazer ao Brasil, à semelhança da crise energética de 1999.

"O problema é que as deficiências que temos nos transportes não são percebidas tão facilmente pela população quanto um apagão elétrico, mas causam danos tão ou mais graves do que o que vivemos no racionamento", disse o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Mascarenhas.

A última apresentação feita pelo ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, apontava pelo menos 14 pontos considerados como os principais problemas do setor. A lista atinge rodovias, ferrovias, portos, hidrovias e a marinha mercante brasileira. A maior parte das verbas do Ministério é destinada ao modal rodoviário.

Estradas precárias são desafio

O maior desafio para os grandes produtores agrícolas e industriais brasileiros é levar suas safras e produções por estradas precárias. Dos 58 mil quilômetros de rodovias pavimentadas que atravessam o Brasil, 80% foram restauradas pela última vez há mais de 10 anos. Nos últimos anos, essas estradas passaram, no máximo, pelos programas de conservação que ficaram mais conhecidos como "operações tapa-buracos".

O Ministério dos Transportes assume que 47% dos 72 mil km da malha rodoviária nacional estão em péssimas condições de rodagem, enquanto 35% são classificados como em estado regular. É sabido que, antes de prejudicar a economia brasileira, com a diminuição da capacidade de expansão da produção, a precariedade das estradas aumenta o número de acidentes e o tempo de percurso.

Afinal, a maior parte das cargas é transportada por rodovias. De acordo com o ministério, 61,2% dos 794 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) de cargas produzidas no Brasil passam pelo sistema rodoviário. Por isso, o principal foco de investimento do governo é nas estradas. Segundo o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, mais de 80% das verbas de 2004 foram destinadas a este modal. "O que temos hoje para escoar a produção são as rodovias. Então, temos que recuperar as estradas prioritariamente."

O Plano Plurianual (PPA) do governo Lula, anunciado pelo ministro do Planejamento, Orçamento e Gestão, Guido Mantega, no ano passado, já mostrava indícios da necessidade de investimentos urgentes nos transportes. O PPA, classificado como "realista" por Mantega, estabelece como um dos destaques para os próximos quatro anos a mudança da matriz de transportes.

Nascimento defende o estabelecimento de corredores multimodais, que vão permitir a integração física e operacional entre rodovias, ferrovias, hidrovias e portos, e melhor aproveitamento da logística de transportes. Fundir os sistemas de transportes possibilitará aproveitar melhor os modais ferroviário, por onde passa 20,7% das cargas brasileiras, e aquaviário, responsável pelo transporte de apenas 13,6% da produção.