Título: PMDB governista quer anular convenção
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/12/2004, Política, p. A-7

Para isso, só precisam da assinatura de um terço da Executiva, ou seja, cinco dos 15 integrantes. A ala governista do PMDB promete sacar do bolso nas próximas horas uma última cartada na tentativa de adiar a convenção nacional do partido marcada para o próximo dia 12, quando estará em jogo o desembarque dos peemede-bistas do governo. Caso se esgotem até o final do dia de hoje todas as possibilidades de evitar a convenção pela via da negociação, os governistas pedirão a convocação da Executiva do partido para a próxima quarta-feira. Para isso, só precisam da assinatura de um terço da Executiva, ou seja, cinco dos 15 integrantes.

Ontem, o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), garantiu que chegando o pedido com as assinaturas necessárias, a Executiva será automaticamente convocada, conforme prevê o regimento do partido.

Pelo estatuto da legenda, apenas essa instância partidária teria a prerrogativa de adiar a convenção. Trata-se de uma jogada de risco. A guerra de números foi deflagrada ontem. O grupo que defende a permanência do PMDB no governo diz contabilizar de oito a nove votos. Representante da ala governista, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) tem dito em conversas reservadas estar seguro de que a Executiva barra a convenção. O mais novo argumento é de que a convenção nacional, se realizada esse mês, perderia legitimidade ao não levar em consideração a posição dos prefeitos eleitos pelo partido nas eleições municipais desse ano. O que não ocorreria se ela fosse adiada para janeiro ou fevereiro do ano que vem.

"Precisamos do respaldo dos prefeitos. Hoje uma convenção nacional não representaria todas as instâncias do PMDB", argumentou ontem o senador Ney Suassuna (PMDB-PB), que também faz parte da ala governista da sigla.

Os oposicionistas rebatem garantindo o apoio da maioria. Parte majoritária dos integrantes da Executiva, no entanto, ainda não se manifestou publicamente. O senador Maguito Vilela (PMDB-GO), por exemplo, adota uma postura dúbia. Diz ser favorável ao adiamento da convenção, mas condicionada à imediata entrega dos cargos. "O PMDB de Goiás defende um apoio responsável ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não existe motivo de ir para a oposição. Mas defendo a entrega dos cargos. De qualquer forma, houve uma precipitação em pedir a convenção agora. Deveria ficar para janeiro", ressaltou o governador goiano.

Nos bastidores, o maior articulador pelo adiamento da convenção é o senador Ramez Tebet (PMDB-MS). Tenta mediar o consenso. Anteontem se reuniu com os deputados Michel Temer e Geddel Vieira Lima (BA). Ainda ontem Tebet agendou conversas com o presidente do Senado, José Sarney (AP) e o líder do partido no Senado, Renan Calheiros. Embora publicamente seja defensor da tese da entrega dos cargos, Tebet tenta se cacifar para um ministério ou um eventual retorno à presidência do Senado, possibilidade muito discutida na cúpula do governo.

Os governistas articulam o recurso à Executiva pois sabem que dificilmente lograriam êxito no voto a voto da convenção do dia 12. Embora a maioria dos estados defenda a permanência no governo Lula, pelos cálculos da cúpula do partido, juntas, as regionais favoráveis ao desembarque somariam mais votos. São exemplos os diretórios do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.

"Na convenção temos maioria", disse Michel Temer, integrante da turma do desembarque.

Enquanto o PMDB debate se fica ou não no governo Lula, as votações de interesse do Palácio do Planalto continuam obstruídas no Congresso, caso da Lei de Falências e as parcerias público-privadas, PPP.