Título: Governo fará ao Congresso pedido para empréstimo
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/12/2004, Internacional, p. A-9

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que enviará ao Congresso Nacional, nos próximos dias, um pedido de autorização para o Brasil fazer um empréstimo-ponte ao Haiti. O País lidera a missão de paz da Organização das Nações Unidas (ONU) no Haiti.

Durante audiência pública conjunta das comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara e do Senado, Amorim anunciou que Banco Mundial (Bird) tem US$ 150 milhões que poderiam ser usados para financiar obras de infra-estrutura no país caribenho. Desse total, US$ 60 milhões poderiam ser liberados imediatamente.

O Haiti, no entanto, não tem como tomar o dinheiro porque está inadimplente com a instituição. Segundo Amorim, com o empréstimo-ponte seria paga uma quantia mínima, suficiente para desencadear novo financiamento.

"Com isso, poderíamos liberar uma quantia importante para o Haiti, em torno de US$ 25 milhões a US$ 30 milhões, imediatamente. E contamos com a aprovação dos senadores, para que isso possa ocorrer", afirmou.

A operação, segundo o chanceler, não ofereceria risco ao País, pois a primeira parcela a ser repassada com o financiamento iria direto aos cofres públicos brasileiros. Amorim acrescentou que a operação precisa ser aprovada com urgência, até o próximo dia 6 de janeiro, quando ocorrer a próxima reunião do Bird. Caso contrário, o assunto só será examinado em março de 2005.

O ministro destacou que há também outras fontes de recursos mas, para liberá-los, o Haiti precisa aceitar algum nível de co-gestão por parte da comunidade internacional, para que haja confiança dos doadores e o dinheiro possa ser gerido de maneira adequada. Amorim disse que a comunidade internacional já se comprometeu a liberar recursos da ordem de US$ 1,2 bilhão para ajudar na reconstrução do país.

O chanceler aproveitou, no entanto, para fazer algumas críticas aos países mais desenvolvidos e ricos. Segundo Amorim, embora coloquem dinheiro, não têm o mesmo nível de envolvimento do Brasil na busca da reconstrução das instituições. O participação brasileira, de acordo com o chanceler, "foge ao padrão que eles estão acostumados". "Para eles, aquilo é um problema de segurança, de migração, de narcotráfico. Na medida que estas questões estão asseguradas com algumas tropas, as que dizem respeito a envolvimento financeiro de mais longo ficam mais difíceis", acrescentou. Por isso, defendeu uma participação constante do Brasil, em vários fóruns, para que o Haiti não saia do "radar" da ONU. Acrescentou, no entanto, que o Brasil não vai resolver os problemas do país caribenho, mas sim ajudá-lo a administrar suas questões. E que a presença do País dependerá da evolução do Haiti e da resposta aos esforços do governo brasileiro.