Título: Missão é pressionada a usar violência
Autor: Gisele Teixeira
Fonte: Gazeta Mercantil, 03/12/2004, Internacional, p. A-9

General diz que pressão é de países que fazem doações expressivas para recuperação do país. O general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, comandante da Missão de Estabilização da Organização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), disse ontem que tem recebido muita pressão da comunidade internacional para reforçar o uso da violência e da força militar no Haiti. Segundo ele, as pressões vêm dos países interessados na área, responsáveis por doações expressivas para a recuperação do Haiti e com uma influência marcante na história da nação, a exemplo dos Estados Unidos.

"Mas também são países cuja concepção de ação de missão de paz difere da nossa. Sou expert em usar a violência, exatamente por isso tenho muito cuidado em utilizá-la", afirmou. Depois de seis meses no comando da Minustah, Heleno Ribeiro fez ontem, no Congresso Nacional, um relato da situação dos soldados brasileiros naquele país e da população haitiana. Hoje, a missão é tem 3,8 mil homens, sendo 1,2 mil brasileiros. A meta é chegar a 6,1 mil até o final de dezembro.

Durante sua exposição, o general defendeu o início da implantação de programas sociais e o aumento da presença do Estado, e disse que o desarmamento das gangues, dos "chimères" (simpatizantes armados do presidente deposto Jean-Bertrand Aristide) e dos ex-militares vai demorar.

Segundo Heleno Ribeiro, as gangues e chimères, embora não tenham apoio da população, são difíceis de desarmar porque atuam no interior das favelas. Neste caso, acrescenta ser preciso um serviço de inteligência para, por exemplo, descobrir esconderijos de armas, o que não existe no momento.

Já os ex-militares possuem direitos constitucionais garantidos e são legais perante o governo, além de terem o apoio da comunidade. São eles que mantêm a "segurança pública", principalmente nas pequenas cidades. "Nós não vamos enfrentá-los na situação atual porque isso seria provocar uma carnificina", afirmou.

O general minimizou o tiroteio ocorrido durante a visita ao Haiti do secretário de Estado dos Estados Unidos, Colin Powell, na quarta-feira. Segundo ele, isso é comum nas favelas e está tudo sob controle. E fez uma ironia, dizendo que o barulho das balas é "cantiga de ninar" das crianças haitianas.

Heleno Ribeiro reiterou que sem a implementação dos projetos de desenvolvimento, a situação do país caribenho não será alterada. Segundo ele, é preciso inverter a "equação" que tem sido colocada na mesa pela comunidade internacional desde o início do processo. "Eles pedem um nível de segurança maior do que existe hoje e defendo que o nível de segurança atual é compatível com as iniciativas sociais, porque são elas que vão dar à população condições de vislumbrarem um futuro melhor.

O general lembrou a participação dos governos sul-americanos, que têm feito uma "grita" pela implementação de projetos sociais. E disse que espera ver, em breve, o resultado desta mobilização nas ruas do Haiti. Segundo ele, o Taiwan realizou obras públicas no país com menos burocracia e exigências. O general comparou a situação do Haiti com as de "um campo de concentração gigante".