Título: FMI alerta para alta dos preços latinos
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 12/04/2011, Economia, p. 15

CUSTO DE VIDA O Fundo Monetário Internacional (FMI) demonstrou forte preocupação com a inflação na América Latina. O relatório Panorama Econômico Global (World Economic Outlook), divulgado ontem pelo Fundo em Washington, nos Estados Unidos, faz um alerta sobre a alta nos preços das commodities e o superaquecimento das economias emergentes. Aos olhos do organismo, os riscos de aumento nos preços na região são elevados. O indicador deverá saltar 6,7% neste ano, podendo recuar para 6% em 2012 ¿ índices próximos ao registrado no Brasil atualmente e próximo do teto da meta do Banco Central brasileiro, de 6,5%.

O estudo do organismo multilateral destacou que, após saltarem 41% em 2010, os custos dos alimentos continuam registrando novas elevações desde o início de ano. Se comparado com 2008, o aumento é ainda maior para os grãos, a exemplo do arroz, chegando a 82%. ¿Os temores estão direcionados para os preços das commodities¿, afirmou o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard. ¿A alta foi maior do que a esperada e reflete a combinação do forte aumento da demanda com os choques no abastecimento. Isso configura um cenário parecido ao da estagflação dos anos 1970, mas ainda parece improvável¿, observou.

Na avaliação do Fundo, as pressões inflacionárias na América Latina estão associadas ao forte crescimento econômico, mas esse avanço dos preços pode ser minimizado, em parte, pelo México, onde a inflação anual deve cair de 4,2% em 2010 para 3,6% em 2011 e para 3,1% em 2012. A Venezuela é o país com maior variação: 29,8% neste ano e 31,2% no próximo. Na Argentina, a inflação chegaria a 10,2% neste ano e a 11,5% em 2012. No Brasil, seria de 6,3% e 4,8%, respectivamente, conforme as estimativas.

Ineficácia O economista Paulo Sandroni, professor da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), também alerta para o aumento inevitável dos preços no Brasil. ¿O mercado já está elevando as projeções de inflação para acima de 6% neste ano. E, até o momento, o governo está ignorando o verdadeiro impacto das tensões inflacionárias¿, comentou. Para ele, se a tendência de preços elevados persistir, serão necessárias medidas mais drásticas no segundo semestre. ¿O pior dos cenários é a volta da inflação. As medidas até agora anunciadas pelo governo (aumento do Imposto sobre Operações Financeiras sobre o crédito) não atacam a inflação de forma direta¿, analisou o economista.

Sandroni lembra que o Brasil cresceu muito no último ano e o ritmo de crescimento atual é incompatível com as metas de inflação que o governo impôs. A seu ver, as recentes medidas anunciadas pelo governo são ineficazes para conter a alta dos preços. ¿Serão necessárias medidas mais firmes e que realmente consigam inibir o crédito ao consumidor¿, comentou. Para ele, o melhor caminho agora é aumentar o depósito compulsório para os bancos, medida que enxugaria a economia.

Previsões O FMI manteve as projeções de crescimento da economia mundial e destacou que o ritmo de recuperação da crise financeira de 2008 e 2009 deverá continuar. O organismo espera que o mundo cresça 4,4% este ano e 4,5% em 2012, apesar dos riscos do aumento dos preços das commodities e da explosão de crédito nos países emergentes. Manteve também as previsões de crescimento para o Brasil: o Fundo espera que o país avance 4,1% este ano e 4,2% ano que vem.

Para a América Latina e Caribe, a previsão do FMI é de um recuo dos 6,1% registrados em 2010 para 4,7% neste ano e 4,2% em 2012. Há sinais de um potencial superaquecimento da economia na região, mas a entrada desenfreada de capital estrangeiro tem ajudado a impulsionar o consumo e encurralado a política monetária do governo. ¿O crescimento real de crédito no Brasil e na Colômbia avança de 10% a 20% ao ano. Além disso, o crédito per capita no Brasil quase dobrou nos últimos cinco anos¿, destacou o Fundo.