Título: Planalto intensifica a ofensiva para cancelar convenção do PMDB
Autor: Sérgio Pardellas
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/12/2004, Política, p. A-8
Convencido do peso do PMDB na sucessão presidencial em 2006, o Palácio do Planalto intensificou ontem a ofensiva no sentido de abortar a convenção nacional da sigla, inicialmente marcada para domingo, que poderá decidir pelo desembarque dos peemedebistas do governo federal.
A possibilidade concreta de o PMDB governista perder a queda-de-braço com os defensores da entrega dos cargos acendeu o sinal de alerta no Executivo. Durante o dia, enquanto os ministros Aldo Rebelo, da Coordenação Política, José Dirceu, da Casa Civil, e Eunício Oliveira, das Comunicações, disparavam telefonemas numa tentativa de virar votos em favor dos governistas, numa possível reunião da Executiva para quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva monitorava o placar com o líder do PMDB no Senado, senador Renan Calheiros (AL), um dos articuladores, junto com o presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), pelo adiamento da convenção. Lula e Renan trocaram ontem pelo menos quatro telefonemas. Mas como até o final da tarde de ontem, o Planalto não tinha segurança dos votos da maioria peemedebista numa possível convocação da Executiva, única instância capaz de deliberar sobre o adiamento, emissários do governo já falavam em "solução negociada". Eunício chegou a propor a reunião, a princípio na quarta-feira, para quinta. "Não nos interessa a divisão do PMDB, mas sim a unidade, portanto, vamos trabalhar até o último segundo para encontrar uma saída que contemple, que contemporize, que não divida o PMDB", disse Eunício.
À noite, rumores davam conta de um eventual encontro entre o presidente do PMDB, deputado Michel Temer, e o presidente Lula. Temer teria sido sondado na última quinta por assessores palacianos. E se disse aberto ao diálogo.
Também na última semana, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em audiência no Planalto, chegou a pedir o apoio do governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB). Aliado de Roriz, o deputado federal Tadeu Filippelli (PMDB), têm direito a voto na Executiva do partido.
Vantagem dos governistas
Os governistas trabalham para barrar a convenção pois sabem que dificilmente lograrão êxito. Embora a maioria dos estados defenda a permanência no governo Lula, pelos cálculos da cúpula do partido, juntas, as regionais favoráveis ao desembarque somariam mais votos. São exemplos os diretórios do Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo e Paraná.
No rachado PMDB, o tema já se transformou numa guerra de nervos. Governistas e independentes garantem ter maioria na Executiva. Segundo Eunício, os governistas possuem 16 votos de todos os membros da executiva. Caso votem apenas os membros efetivos, ou seja 16 integrantes, de acordo com o ministro, a ala governista possuiria ainda dois votos a mais que os dissidentes. Os defensores da entrega dos cargos, no entanto, dizem contar com votos considerados certos pelos governistas. Como o secretário-geral do partido, deputado Saraiva Felipe (MG), Filippelli, o senador Ramez Tebet (MS) e o ex-deputado Renato Vianna (SC). O catarinense, inclusive, teria ligado ontem para o governador do Paraná, Roberto Requião, confirmado sua posição contrária ao adiamento da convenção. Vianna é aliado do governador de Santa Catarina, Luiz Henrique. "Falar em saída negociada é desespero. É discurso de quem não tem votos", disse um peemedebista da ala independente.
"Já que o Temer defende a entrega dos cargos, porque não desembarca da presidência dos Correios ?", provocou um governista, se referindo à indicação de João Henrique de Almeida pelo partido, presidente dos Correios.
As negociações envolvendo o Planalto devem prosseguir durante todo o dia de hoje. O presidente Lula aguarda o PMDB para anunciar novas alterações na Esplanada dos Ministérios.