Título: Furlan e exportadores esperam que patamar volte à cotação de R$ 3
Autor: Cristina Borges Guimarães e Dimalice Nunes
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/12/2004, Finanças, p. B-1

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, considerou natural a compra de dólares pelo Banco Central. "Os dirigentes do Tesouro e do BC são operadores capacitados e se tomaram a decisão é porque é o ponto ideal de compra", afirmou. Falando a empresários, Furlan disse que o câmbio próximo a R$ 2,70, "preocupa os exportadores porque houve aumento de custos no mercado interno, matérias-primas, tarifas, tributos". Para ele, o melhor seria um câmbio ao redor de R$ 3, com variações máximas de 5%.

Vai na mesma direção - dólar a R$ 3 - a opinião do setor produtivo e de economistas. "Nós, como exportadores, não gostamos da taxa de câmbio atual, mas não há como reclamar formalmente porque o câmbio é livre e varia ao sabor do mercado", disse o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Mas, pelo menos, o BC está "atento". "O leilão é insuficiente e espero novas intervenções", disse. "Nas grandes empresas, o câmbio reflete-se na rentabilidade, mas para as pequenas é uma questão de sobrevivência".

Nas contas de Castro, a valorização do real terá impacto sobre cerca de 30% das empresas exportadoras brasileiras em 2005 - num ambiente de pressões de custo onde se destacam petróleo e aço. "O mercado interno, tradicionalmente, é mais lucrativo e a esta taxa de câmbio o setor externo torna-se ainda menos atrativo. Além disso, as importações podem aumentar, tomando espaço de alguns bens produzidos internamente e gerando desemprego."

O professor de economia da PUC-SP e presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Antônio Corrêa de Lacerda, também acredita que as exportações podem ser afetadas se o dólar não atingir os US$ 3, mas não prevê pressões inflacionárias. "Defendo um câmbio flutuante sujo. Atualmente, a oferta de dólar no mercado é superior à demanda em função das exportações brasileiras. É necessária uma postura ativa do BC, direta ou indiretamente por meio do Tesouro", disse Lacerda. "Mesmo se houvesse algum impacto inflacionário, os efeitos do câmbio valorizado seriam piores", disse Lacerda.

Na opinião de Lacerda, a diversificação da cesta de moedas que compõe as reservas nacionais seria estratégica para que o País se defendesse das incertezas relativas ao dólar. "Mas isso não é fundamental. O principal é elevar o nível de reservas." O economista disse ainda que o Brasil não pode se dar ao luxo de deixar de gerar superávit comercial, em função do déficit estrutural em serviços. "Nossa participação no comércio internacional ainda é muito baixa e o câmbio é o principal instrumento para promover superávit".

Quando o real se desvaloriza, deixando o dólar caro, a economia aumenta a competitividade, exporta mais e substitui as importações, gerando saldos comerciais e crescimento da renda. Segundo o economista Luiz Antonio Fayet, para equacionar o fluxo de caixa das contas externas, num horizonte de dez anos, o dólar deveria estar mais próximo de R$ 3,50 - esse é modelo de Coréia, China e Japão.

Na opinião do diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Gomes de Almeida, a participação do Banco Central e de seus agentes no mercado cambial deveria ser mais freqüente, já que o Brasil precisa ampliar suas reservas. O único cuidado deve ser em relação ao limite que mantém o regime de câmbio flutuante. Almeida considera R$ 2,70 um nível baixo de remuneração dos exportadores, o que torna prováveis e benéficas novas intervenções do BC. O câmbio não é um bom instrumento de política anti-inflacionária, mas é fundamental para o comércio exterior. "As exportações em 2005 vão depender do câmbio, do crescimento da economia mundial e dos preços internacionais, mas no próximo ano a relevância do câmbio frente às outras duas variáveis será maior."

Heron do Carmo, do Conselho Regional de Economia São Paulo (Corecon-SP), só viu impactos positivos. "A compra resolve a incerteza relacionada às exportações, depois da valorização excessiva do real. Promove uma melhora nas reservas. E não terá nenhum impacto sobre a inflação".