Título: BC compra dólares e força alta
Autor: Jiane Carvalho
Fonte: Gazeta Mercantil, 07/12/2004, Finanças, p. B-1

Com o anúncio do leilão, a moeda saiu de uma cotação de R$ 2,699 e fechou em R$ 2,718. Patrocinada pelo Banco Central, que ontem realizou o segundo leilão de compra de dólares do ano, a moeda fechou em alta de 0,37%. Ao final do dia, o dólar comercial era vendido a R$ 2,718. Embora pela versão oficial o BC tenha comprado dólares para engordar as reservas do País, o mercado financeiro entendeu como uma intervenção para evitar a queda da moeda abaixo de R$ 2,70. No momento em que o BC anunciava o leilão, a moeda era vendida a R$ 2,699, em baixa de 0,37%.

O leilão de ontem, embora tenha forçado uma alta pontual da moeda, não terá força para manter o dólar valorizado. Sem novas incursões do BC, e desde que o cenário econômico se mantenha inalterado, analistas garantem que o dólar volta a cair. Há fatores internos e externos que explicam a desvalorização da moeda. Internamente, o superávit recorde na balança comercial - US$ 30 bilhões no ano -, captações externas e a queda do risco-país ajudam a depreciar o dólar. No mercado externo, os problemas dos Estados Unidos - déficits fiscal e comercial recordes, além do crescimento econômico abaixo da expectativa - afastam o investidor.

"Com o cenário global favorável à depreciação do moeda em relação ao euro e iene, só com a ação do BC o dólar não retorna à trajetória de queda", diz Júlio César Vogeler, analista da corretora Didier Levy. "Os investidores estão perdendo o respeito pela moeda." Se há unanimidade no mercado financeiro ao afirmar que, sem a mão do BC, o dólar voltará a cair, o mesmo não ocorre quanto à forma de realização dos leilões.

Para uma parte do mercado, o BC errou duplamente na mão: exagerou na dose ao definir o valor a pagar e foi muito brando ao comprar um volume pequeno. "O BC agiu no momento correto de baixa da moeda, mas deveria comprar dólares pela cotação em vigor no mercado, e não por um preço maior", diz Jorge Knauer, gerente de câmbio do banco Prósper. "Não temos o montante da operação, mas pelo que foi comentado o volume foi pequeno para quem diz que o objetivo é ampliar as reservas", diz Knauer. No mercado comentou-se que o BC teria comprado US$ 30 milhões.

Independentemente das reais motivações do BC, o leilão além de pressionar a cotação do dólar, também deve ajudar a conter o movimento especulativo. Muitos bancos vinham reforçando na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) a posição de "vendido", que lucra com a queda do dólar. "Isto realmente vinha ocorrendo, tanto que nas últimas semanas a moeda caía mesmo com o fluxo negativo, isto por conta da atuação de especuladores no mercado de futuros", afirma Jorge Kattar, responsável pela área de derivativos do Rabobank.

O leilão do BC, para alguns especialistas em câmbio, pode ser o "sinal" para que as tesourarias mudem de estratégia e passem para a posição de "compradas", que lucram com a alta. No entanto, lembra Vogeler, da Didier Levy, isto já deu errado. "Quando o dólar foi a R$ 2,80 muitos acreditaram que este seria o piso e passaram de vendido para comprado", diz. "Quando o dólar caiu abaixo deste valor, eles realizaram prejuízo e mudaram de posição, para vendidos, o que torna difícil saber como se comportarão agora."

Já no mercado de juros futuros, o dia mostrou estabilidade nas projeções de curto prazo e ligeira alta nas de longo prazo. Os contratos com vencimento em abril de 2005, o mais negociado, sinalizou juro de 17,87% ao ano frente 17,86% de sexta-feira. Para janeiro de 2006, a taxa passou de 17,64% para 17,66% ao ano. No mercado de títulos públicos, o C-Bond fechou com valorização de 0,18%, vendido a 101,375% do valor de face.